quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

LARGANDO A MENTIRA


"Pelo que, deixai a mentira, e falai a verdade..." (Ef 4:25)

Há algum tempo atrás um jovem crente, recém casado e cheio de sonhos na vida veio conversar comigo, muito alegre e eufórico. O motivo de tanta alegria era porque Deus abrira uma grande porta para ele, inesperada e providencial, e ele resolveria através desta porta seus problemas financeiros. Perguntei-lhe sobre esta porta, e ele me falou:

― Irmão, recebi um e-mail no qual uma fundação ligada a partidos políticos norte-americanos estava doando a quantia de cem mil dólares, tipo restos de doações de campanha que precisariam ser gastos até o final do ano. Embora o e-mail estivesse em inglês, consegui traduzir e já estou preparando a resposta para enviar, com número de conta corrente para depósito imediato do valor.

Respirei fundo e comecei a dar a difícil notícia de que ele, na verdade, estava sendo enganado, e provavelmente ao invés de receber um deposito de cem mil dólares, teria que depositar algum valor para que esta quantia lhe fosse liberada... O que nunca seria... Contei-lhe tudo sobre e-mails fraudulentos... À medida que eu lhe falava estas verdades, vi seu sorriso se desfazer, a tristeza e a decepção tomarem-lhe as feições. Na verdade, primeiro que tudo eu vi em seu rosto a vontade de questionar o que eu lhe dizia, de mostrar a mim que não, quem estava errado era eu... E ele até tentou... As pessoas que enviaram o e-mail eram pessoas sérias, honestas... Muitos já haviam ganhado o valor... Acreditem, precisou de muito tempo e muitos argumentos para ele entender que na verdade estava sendo iludido. No fundo, estes cem mil dólares dariam a ele o montante para construir uma carreira, uma vida... E um estraga-prazeres da minha categoria tinha que aparecer para por água na fogueira!

No fim, convencido ma non troppo, o irmão saiu dizendo que iria se comunicar ainda por e-mail com seus remetentes, para esclarecer melhor... Por mais que eu lhe dissesse quem não o fizesse, pois estava lidando com bandidos profissionais, neste aspecto ele não se convenceu. Ficou ainda em seu coração uma pontinha de desejo e esperança de que EU estivesse errado...

Este fato me deixa uma lição interessante: o nosso apego à mentira. Somos propensos a isto desde nossa mãe Eva e nosso pai Adão, os primeiros a acreditarem em uma mentira que lhes prometia muito mais que cem mil dólares, mas que só lhes trouxe separação e vergonha. Este apego à mentira chegou até nós através do pecado, e nos faz acreditar em tudo aquilo que nos dizem, pois as promessas são atraentes. Para Adão e Eva, era a possibilidade de serem iguais a Deus; para nós, é a prosperidade, é a cura, é a solução de todos os nossos problemas, etc. Acreditamos porque somos crédulos. Acreditamos porque queremos nos beneficiar da Lei do Gerson: queremos levar vantagem.

Em primeiro lugar, somos cobiçosos. A Bíblia ainda acrescenta mais detalhes sobre esta nossa cobiça: é provocada por torpe ganância (1 Tm 3:3; 3:8; Tt 1:7; 1:11). Sim, pois quem cai no conto do vigário só caiu porque acreditou que levaria vantagem em algum negócio, prejudicando outros. No final, os prejudicados são eles.

Em segundo lugar, quando alguém nos apresenta a verdade, fazemos de tudo para continuarmos crendo na mentira. Esta mentira nos é tão agradável que fazemos de tudo para  permanecermos apegados a ela, para convencer o mundo inteiro que ela é a verdade! Apegamos-nos a ela com um amor tão profundo que preferimos ficar com ela ao invés de abandoná-la para ficarmos com a verdade.

Em terceiro lugar, já aplicando às coisas espirituais, temos o terrível costume de, entre aceitar o que afirma a Bíblia e defender a sã doutrina das Escrituras, e defender pastores e líderes que ensinam coisas contrárias a ela, sempre preferimos defender as pessoas ao invés da Palavra de Deus. Sem nem mesmo nos darmos o trabalho de analisar, perscrutar, inquirir, ver nas Escrituras se as coisas são mesmo assim, como bem faziam os bereianos (At 17:11). Defendemos o que nos é mais conveniente...

Tudo isso me remete a uma conversa que há muitos anos tive com uma Testemunha de Jeová. Pedi-lhe a Bíblia emprestada e no texto da sua própria refutei algumas das mentiras que haviam lhe ensinado. Mostrei-lhe a presença de uma grande multidão no céu (e não somente os 144 mil), mostrei-lhe a Trindade, e algumas outras coisas que ele tinha como verdade absoluta. Mostrei NA BÍBLIA. Atordoado, ele me disse “― Estou vendo na minha Bíblia, mas não estou acreditando...”

Hoje, isto não é mais exclusividade das Testemunhas de Jeová. Entre os crentes, os evangélicos, os góspeis de nossos dias, já observamos o mesmo apego à mentira. Perdi a conta de pessoas com que já confrontei com as Escrituras para mostrar o erro de falsos movimentos neo-pseudo-pentecostais, mas elas preferem permanecer no erro, pois lhes é mais conveniente... Cansei de mostrar na Bíblia que muitos pastores e líderes da atualidade servem mais a si mesmos do que a Deus, mas tapam olhos e ouvidos... Já tentei mostrar a muitos que certos hinos cantados em nossas igrejas são antibíblicos, não cristocêntricos e contêm letra que vai de encontro à sã doutrina, mas não querem me ouvir, pois os hinos que escutam têm sabor de mel.. mas estes mesmos hinos doces não tornam seus ventres amargos (Ap 10:10), como deveria ser toda e qualquer pregação, mensagem e doutrina pregada na Igreja do Senhor Jesus Cristo...

Cansei de mostrar textos inteiros da Bíblia, que são simplesmente ignorados, muito provavelmente nem são lidos, ou são refutados com frases do quilate de “não toque no ungido”, “não se meta nas coisas que você não entende”, “não julgue”... Claro! Os ungidos são maiores que a Bíblia!

Este apego à mentira pode até, quem sabe, ser encontrado em mim e em você. Nós nos apegamos com tanta força às nossas convicções de fé que nem aceitamos examinar as opiniões dos outros, confrontando-as com as Escrituras e comparando-as com as nossas. Veja bem: não falo em crer nas opiniões dos outros, mas pelo menos analisá-las à luz da Bíblia, e ter disposição para abraçar aquilo que as Escrituras referendam. Só isso! Assim como os judeus de Bereia, que também tinham suas convicções judaicas, mas foram nobres e sábios o bastante para analisar as novas propostas apresentadas por Paulo e Silas.

Falo principalmente sobre a disponibilidade de aprender. Ninguém sabe tanto que não precise aprender um pouco mais, e ninguém é tão ignorante que não tenha algo para ensinar. Meu pastor conta uma história que o dr. Russell Shedd deu uma palestra para as turmas do Seminário que ele cursava. Em dado momento, um seminarista do 1º ano o interrompeu, discordando de uma colocação e apresentando uma nova visão acerca do texto debatido. O dr. Shedd, do alto de sua autoridade adquirida em décadas de estudo, parou, pensou por alguns segundos, tirou um bloquinho e caneta do bolso, fez algumas anotações e disse: “― Eu nunca tinha pensado deste jeito! Vou analisar, irmão...”.

Falo sobre a disposição de largar a mentira!


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Deus te abençoe!

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