quinta-feira, 29 de março de 2012

SOBRE PROFETAS, SACERDOTES E REIS

(NÃO TOQUEIS NOS MEUS UNGIDOS, PARTE 2)

No afã de se tornarem imunes a qualquer questionamento ou crítica, muitos “homens de Deus” dos nossos dias abrem suas bocas de forma presunçosa e antibíblica para reivindicar seus direitos de intocabilidade, admoestando seus opositores a que “não toquem nos ungidos do Senhor!” e vociferando pragas e maldições contra quem se atreve a desobedecer à orientação “bíblica”. Aqui em João Pessoa, aonde moro, a mais recente ocorrência foi a de um pastor que, segundo divulgado e corrido à boca miúda, abandonou a esposa e “casou-se” com uma jovem de 16 anos. Como está todo mundo “caindo em cima”, há poucos dias ele subiu ao púlpito de sua igreja para defender o indefensável e exigir o respeito e a imunidade de ungido que acredita possuir. 

Estes “neoungidos” são muito engraçados! Eles se enxergam como ungidos do Senhor, nos moldes da unção ministrada aos primeiros reis de Israel, e graças a esta suposta unção e ao fato de se acharem igualmente reis e sacerdotes da Igreja, julgam-se superiores aos profetas e intocáveis em tudo. Acham que podem pisar na Bíblia, deturpar a sã doutrina e fazer o que bem lhes der na telha. Além de tudo isso, ainda se recusam a ser admoestados ou questionados, como se uma unção do alto lhe concedesse esta prerrogativa de intocabilidade. Será??

Cada macaco no seu galho, certo? Então, é necessário conhecer as três funções ministeriais, que iniciaram no Antigo Testamento e perduram até os dias de hoje do ministério da Igreja na Nova Aliança: profetas, sacerdotes e reis.

OS PROFETAS ― O primeiro ministério criado por Deus em Seu reino foi o ministério profético. Muito antes do estabelecimento da Antiga Aliança Deus já tratava Abraão como profeta, divulgando isto entre as nações (Gn 20:7). Aliás, o texto “não toqueis nos meus ungidos e não maltrateis os meus profetas” trata exatamente dos patriarcas, que necessitavam da proteção de Deus para a sua sobrevivência e para a formação de um povo. Quando Deus fala a Moisés que ele, Moisés, seria diante de Faraó como Deus e Arão como seu profeta (Ex 7:1) mostra que o profeta é uma espécie de porta-voz de Deus. O porta-voz jamais fala suas próprias palavras, e sim repete as palavras de Deus em linguagem compreensível ao povo, muito diferente de muitos “profetas” de hoje, que falam coisas arrogantes, coisas que Deus não mandou falar e que contrariam frontalmente os princípios da Palavra de Deus. Some-se a isto os controversos "atos proféticos", onde o homem profetiza o que bem quer, segundo a sua própria vontade, como se a profecia fosse um ato humano sobre as quais Deus tem que concordar, e não um mero repetir das palavras ditas por Deus!

Na igreja, o ministério profético perdura como um dom do Espírito Santo (1 Co 12:8-11; 12:29) ou como um ministério de chamada da Igreja à observância da Palavra (Ef 4:11). Seu ministério se revela no âmbito espiritual, através da revelação do Espírito Santo acerca de coisas futuras (At 11:28; At 21:10-11), ou no âmbito ministerial, no aspecto de corrigir erros e distorções em relação às Escrituras (Gl 2:11; At 8:18-24). Há outros aspectos, mas que não trataremos neste artigo.

Se observarmos que os profetas do AT geralmente profetizavam o arrependimento do povo, sua volta à prática daquilo que Deus determinou em Sua Palavra com regra de vida, conduta e prática, podemos considerar que tal ministério na Igreja não perdeu a característica apologética. Assim, aqueles a quem Deus concedeu o conhecimento das Escrituras e a intrepidez para defender a sã doutrina é um profeta de Deus na defesa da Palavra.

OS SACERDOTES ― O ministério sacerdotal foi criado com o advento da Antiga Aliança. Arão e seus descendentes foram escolhidos por Deus para ministrarem todos os ofícios de mediação entre os homens e Deus. Com o advento de Jesus Cristo, que embora não fizesse parte do ministério levítico tornou-se sacerdote e mediador da Nova Aliança, Ele se tornou o ÚNICO mediador entre Deus e o homem (1 Tm 2:5), de sorte que nenhum sacerdócio, por melhor ou mais privilegiado que seja, pode exigir a prerrogativa que pertence unicamente ao Filho de Deus. Quando Deus, pelos méritos da Nova Aliança em Cristo Jesus, nos constituiu sacerdotes (Ap 1:6; 5:10), eliminou a necessidade de sacerdotes no meio da Igreja. Os pastores não são sacerdotes no sentido de mediação; são apenas guias do rebanho, aqueles que Deus designou para cuidar das ovelhas dEle e procurar desenvolver em cada uma delas o ministério sacerdotal que Deus deu a todos.

OS REIS ― O ministério real se aplica a pessoas especiais, escolhidas e ungidas por Deus para governar o Seu povo. Seria, a grosso modo, o pastor da Igreja, que é posto diante do povo para administrar, conduzir e ensinar o povo como devem viver, aos moldes da Palavra de Deus. É a pessoa que Deus colocou para zelar pela observância das Escrituras. Se observarmos a vida de muitos reis, vemos que Deus os ungiu e colocou em evidência para que pudessem preservar a observação da Palavra de Deus. Saul foi rejeitado após desobedecer à Palavra, mesmo que com a melhor das intenções (1 Sm 15:12-31). Logo, é fácil compreender o dito popular que afirma que “de boas intenções o inferno está cheio”. Não foi dado ao rei o direito de ter boas intenções, e sim o dever de zelar pelo cumprimento da Palavra do Senhor. Eis o grande problema. Nem todos querem se submeter aos reais propósitos ministeriais de ungido...

ENTENDENDO AS COISAS ― Com o advento da Nova Aliança, as coisas mudaram! A Escritura afirma que Deus constituiu os crentes como reis e sacerdotes (Ap 1:6; 5:10), e a alguns como profetas (Ef 4:11; 1 Co 12:28-31).

Num sentido mais contextualizado das coisas, comparando estes três ministérios aos poderes da República, Deus é o poder legislativo (o único que pode ditar leis e normas, e que já o fez através das Escrituras), o rei seria o presidente (poder executivo), os sacerdotes e os profetas seriam o poder legislativo no sentido de fiscalização dos atos do executivo, e nunca no âmbito de criar novas leis e normas para o povo de Deus. Só Ele tem esta prerrogativa!

Se analisarmos as funções no Antigo Testamento, vemos que cada ministério tem a sua abrangência, e se completam entre si. Além do mais, um não pode ministrar as obras dos outros, e ao mesmo tempo um depende dos outros, e aos outros deve estar submisso 

Vejamos: o rei Saul foi reprovado por ter apresentado sacrifícios a Deus, que era da exclusiva competência de Samuel, juiz (precursor dos reis), profeta e sacerdote naquele conturbado período de transição entre o ministério dos juízes e a implantação da monarquia (1 Sm 13:8-14). O rei Urias foi severamente repreendido porque queria fazer a ministração sacerdotal, e por causa desta desobediência foi ferido com lepra (2 Cr 26:16-21). 

É interessante observar que NENHUM rei em Judá ou Israel, exceto Saul (1 Sm 10), Davi (1 Sm 16) e Jeú (1 Rs 19:16), foram ungidos. Estes três e suas unções são razão de um outro artigo, mas posso adiantar que a unção de Saul e Davi se deu em função da transição entre o ministério de Samuel e a implantação do reino (inclua-se aí a rejeição de Saul e a eleição de Davi), e a de Jeú como quebra de uma dinastia em Israel e a aniquilação da casa de Acabe.

Também é bom entender que não é somente o rei que é ungido do Senhor. Tanto os profetas quanto os sacerdotes também detêm a mesma unção divina, e jamais podem ser considerados inferiores aos primeiros. Ou seja: reis, vocês não podem se considerar os únicos ungidos do pedaço! O primeiro passo para que a unção real seja aceita em vocês, é o reconhecimento da unção existente nos profetas e sacerdotes!

Analisando o ministério real em comparação com os ministérios sacerdotal e profético, vemos que o rei está sempre sujeito à repreensão destes dois representantes de Deus. Ele não é mais “ungido” que o profeta ou que o sacerdote, e nem a sua unção lhe concede qualquer prerrogativa de intocabilidade ou infalibilidade.

Vejamos a relação entre os reis e os profetas: Saul, embora intocável, foi repreendido diversas vezes por Samuel, foi ameaçado de perda do reino. Davi, homem segundo o coração de Deus, foi duramente repreendido por Natã quando cometeu adultério e homicídio.

E a relação entre sacerdotes e reis? Não é diferente. O sacerdote Aquimeleque ergueu sua voz e questionou o rei Saul (1 Sm 22). O rei Uzias foi repreendido pelo sumo sacerdote Azarias, e com ele mais oitenta sacerdotes do Senhor (2 Cr 26:16ss), que o repreenderam pelo fato de, engrandecendo-se, querer suplantar a Palavra de Deus.

Ou seja: de onde foi que os "reis da cocada preta do Século XXI" tiraram a ideia que profetas e sacerdotes não podem questioná-los, repreendê-los, confrontá-los, SEMPRE à luz das Escrituras, como faziam os profetas e sacerdotes antigos?

Assim, é possível compreender e contextualizar para nossos dias as palavras de Jesus Cristo: "Portanto, eis que eu vos envio profetas, sábios (teólogos, ou defensores da sã doutrina apostólica) e escribas (blogueiros?); e, a uns deles, matareis e crucificareis; e a outros deles, açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis, de cidade em cidade" (Mt 23:34 - parênteses meus). Os "reis da igreja" continuam a fazer hoje o mesmo que já faziam seus ancestrais do tempo do Mestre!

Dá para compreender claramente que o pastor (ou o rei, como queiram!), embora ungido de Deus, nem é o único ungido da igreja, nem detém a melhor ou mais importante unção e nem esta unção o torna imune às críticas, sempre que a sua conduta se afastar dos princípios da Palavra do Senhor. Portanto, amado pastor, submeta-se ao ministério profético e sacerdotal existente na igreja, antes que, como fez a Saul, o Senhor rasgue de ti o reino que tu PENSAS que é teu!

terça-feira, 20 de março de 2012

O VINHO


Vários autores, inclusive eu!

Recebi no apagar das luzes de 2007 e inicio de 2008 a resposta do irmão Adriano para o debate surgido por ocasião do Seminário para Obreiros realizado nesta congregação acerca do vinho nos tempos de Jesus, se o vinho transformado por Ele nas bodas de Cana era vinho alcoólico ou suco de uva, e ainda se seria lícito ao crente tomar vinho. Devido à boa forma acadêmica da elaboração da obra, fiquei na esperança de ter em minhas mãos algo que, embasado nas Escrituras Sagradas e seguindo uma linha de raciocínio coerente e equilibrada, esmiuçasse a minha concepção que tenho acerca do tema, assim como o martelo esmiúça a penha.
Li todo o material nas primeiras horas do ano novo, mas à medida que ia lendo via minha esperança se desfazendo como fumaça, dada a fragilidade do material que tinha em minhas mãos, considerando-se os fracos argumentos apresentados e a ausência de imparcialidade no estudo. A meu ver, as perguntas do debate não foram respondidas, nem pelo articulista nem pelas fontes por ele utilizadas.
No entanto, antes de tecer qualquer comentário acerca da peça de resposta do amado irmão, quero dar-lhe os parabéns por colocar sua opinião. Isto é bom e enriquece o debate, e o coloca na posição dos crentes bereianos que examinavam as coisas, comparando-as com as Escrituras (At 17:11).
A BÍBLIA E AS BÍBLIAS DE ESTUDO
O articulista comete seu primeiro erro já no prólogo da sua obra, quando ele alega que, devido à necessidade de conhecermos mais profundamente a Palavra de Deus, têm surgido muitas Bíblias de Estudo e que elas são úteis para a compreensão das Escrituras e do tema em questão. Quero dizer o seguinte diante deste ponto:
1 – O autor da Bíblia é Deus, seu personagem central é Jesus Cristo, e o seu único e suficiente interprete é o Espírito Santo, e não Bíblias de Estudo. Quando eu faço uso das mesmas, evito tomar seus comentários e notas como única fonte de informação. Se existe uma única Bíblia de Estudo que podemos considerar digna de total credibilidade é a TEMAS EM CONCORDÂNCIA (Editora Central Gospel), que não tem comentários, e sim interligação entre os textos bíblicos, de sorte que a Bíblia explica a própria Bíblia, como nos ensina a boa regra de ouro da Hermenêutica.
2 – Que a chave principal da compreensão das Escrituras é a sua leitura dependente de Deus, observando-se o seu contexto de forma coerente e com raciocínio equilibrado, sem querermos inserir na Bíblia os nossos pensamentos e conceitos, e sim moldando-os ao que está na Bíblia, e sem querermos extrair dela suas verdades absolutas e eternas em detrimento de nossas conclusões. “Seja sempre Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3:4).
3 – Estas Bíblias de Estudo têm-se tornado muito mais uma fonte de lucro para as editoras do que luz para a compreensão do texto sagrado, pois a grande maioria é de custo elevado, o que as torna inacessíveis aos irmãos menos abastados. Além disso, em nossos dias há Bíblias de Estudos para todos os gostos, crenças e vertentes teológicas, onde muitas vezes os comentários de uma contradizem os comentários da outra! Ninguém se assuste se em breve for editada uma “Bíblia de Estudo Homossexual”, para “alimentar” as igrejas que têm surgido em nossos dias direcionadas a este público!
4 – O que facilita a compreensão da Bíblia não são as Bíblias de Estudo, por mais qualificadas que sejam, mas sim uma vida de leitura constante da Palavra de Deus e comunhão com o Espírito Santo, o real Interprete das Escrituras. Estas duas coisas, aliadas a uma análise coerente e imparcial do texto sagrado, dentro do seu contexto e considerando a unidade das Escrituras, leva o homem à compreensão da Bíblia.
5 – A notas de rodapé, estudos e comentários destas Bíblias nada mais são do que a opinião teológica dos seus editores, e não a explicação divina para o texto. Tais notas, apesar de valiosas para o conhecimento e compreensão do texto, não fazem parte do texto inspirado e consequentemente não são a palavra final acerca do tema em questão. Porém, é importante conhecermos diversas linhas de interpretação, pois só assim é-nos possível analisar um assunto de forma isenta e com um amplo campo de visão sobre ele.
6. As opiniões contidas nas notas de rodapé muitas vezes são questionáveis. É o caso, tomando um exemplo da Bíblia de Estudo Thompson, das notas referentes ao episódio de En-Dor, onde o comentarista afirma que realmente Samuel apareceu a Saul. É o caso também, a nosso ver, dos estudos e notas da Bíblia de Estudo Pentecostal, usada pelo nosso articulista, em relação ao vinho, dos quais também discordamos.
7. Concordo parcialmente que as Bíblias de estudo são úteis para a compreensão das Escrituras e do tema em questão, pois através das conclusões de seus editores podemos incrementar a nossa análise sobre determinados temas, analisando-os melhor. Entretanto, é necessário que não sejamos tendenciosos, que analisemos os comentários existentes em todas os comentários interpretativos, comparando-os entre si e principalmente com a unidade das Escrituras, submetendo cada comentário a um raciocínio coerente e imparcial. Não podemos ainda esquecer que tais comentários são opiniões humanas e/ou denominacionais, e jamais devemos permitir que estes comentários sejam a palavra final sobre o assunto, sobrepujando a Palavra de Deus.
OMISSÃO DOS TEXTOS PERMISSIVOS
O segundo erro cometido pelo nobre irmão na tentativa de desmerecer o vinho foi citar somente passagens bíblicas onde existem restrições ao seu consumo, algumas delas inclusive utilizadas fora do contexto, o que nos conduz a conclusões equivocadas. A sabedoria e o bom senso nos ensinam que devemos citar todas as passagens, tanto as restritivas como as permissivas, mas o irmão omitiu estas últimas. Esta atitude não é salutar ao debate, pois precisamos analisar todas as citações das Escrituras sobre um tema, despindo-nos de todo preconceito. Ao se omitir as passagens permissivas, torna-se o debate tendencioso, e os interlocutores são privados da totalidade das citações bíblicas a respeito do tema e forçados a concordar com uma única opinião, sem o direito de analisar as demais.
Além disto, qualquer leitor sério da Bíblia poderá constatar que os textos proibitivos do uso do vinho estão sempre relacionados à falta de domínio do homem sobre o mesmo, o que conduz inexoravelmente a embriaguez, transtornos de personalidade, alcoolismo e ruína. Nestes textos, pode-se ver o real motivo das proibições divinas para o vinho: a embriaguez.
Como o irmão já citou os textos onde, preliminarmente, se deduz que o uso do vinho é desaconselhado, cito doravante alguns textos (não todos, para não ser enfadonho) onde o vinho é fator de benção, motivo de alegria e até mesmo objeto de adoração e oferta a Deus.
1 – Melquisedeque quando abençoou a Abrão trouxe vinho – E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo (Gn 14.18-20).
2 – Isaque antes de dar a sua benção a Jacó bebeu vinho – Então disse: Faze chegar isso perto de mim, para que coma da caça de meu filho; para que a minha alma te abençoe. E chegou-lhe, e comeu; trouxe-lhe também vinho, e bebeu (Gn 27.25).
3 – O vinho era oferecido para a purificação do altar – Sete dias farás expiação pelo altar, e o santificarás; e o altar será santíssimo; tudo o que tocar o altar será santo. Isto, pois, é o que oferecereis sobre o altar: dois cordeiros de um ano, cada dia, continuamente. Um cordeiro oferecerás pela manhã, e o outro cordeiro oferecerás à tarde. Com um cordeiro a décima parte de flor de farinha, misturada com a quarta parte de um him de azeite batido, e para libação a quarta parte de um him de vinho (Êx. 29.37-40).
4 – Era considerado oferta de manjar a Deus – E a sua oferta de alimentos, será de duas dízimas de flor de farinha, amassada com azeite, para oferta queimada em cheiro suave ao SENHOR, e a sua libação será de vinho, um quarto de him (Lv. 23.13).
5 – Era oferecido como libação a Deus – E de vinho para libação prepararás a quarta parte de um him, para holocausto, ou para sacrifício para cada cordeiro; E devinho para a libação oferecerás a terça parte de um him ao SENHOR, em cheiro suave. E de vinho para a libação oferecerás a metade de um him, oferta queimada em cheiro suave ao SENHOR (Nm. 15.5,7, 10).
6 – Na lei mosaica, era recomendado ao crente fiel que usasse parte de seu dízimo para comemorar – Certamente darás os dízimos de toda a novidade da tua semente, que cada ano se recolher do campo. E perante o Senhor, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas: para que aprendas a temer ao Senhor, teu Deus, todos os dias. E, quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o Senhor, teu Deus, para ali pôr o seu nome, quando o Senhor, teu Deus, te tiver abençoado. Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o Senhor, teu Deus; E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; (Dt 14.22-26) Observe-se que até a bebida forte — que seriam em nossos dias as bebidas destiladas como o uísque, a vodca, a aguardente etc — é recomendada. Como Deus recomendaria algo que fosse pecado ao seu povo?
7 – O vinho era oferecido como oferta de consagração – E, havendo-o desmamado, tomou-o consigo, com três bezerros, e um efa de farinha, e um odre de vinho, e levou-o à casa do SENHOR, em Siló, e era o menino ainda muito criança. (1 Sm 1.24 - Se associarmos este texto ao relato da repreensão de Eli contra a suposta embriaguez de Ana, podemos concluir que o vinho usado na época era alcoólico); E quando dali passares mais adiante, e chegares ao carvalho de Tabor, ali te encontrarão três homens, que vão subindo a Deus a Betel; um levando três cabritos, o outro três bolos de pão e o outro um odre de vinho (1 Sm 10.3).
8 – Era usado livremente em momentos festivos, por exemplo, quando a arca veio para Jerusalém – E repartiu a todo o povo, e a toda a multidão de Israel, desde os homens até às mulheres, a cada um, um bolo de pão, e um bom pedaço de carne, e um frasco de vinho; então retirou-se todo o povo, cada um para sua casa (2 Sm. 6.19).
9 – O vinho é produto da criação do Senhor, e seu uso foi em alguns momentos incentivado – [O Senhor] faz crescer a erva para os animais, e a verdura para o serviço do homem, para que tire da terra o alimento e o vinho que alegra o coração do homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o coração do homem. (Sl 104.14-15 - o sublinhado inclusive sugere propriedades embriagantes); Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras (Ec 9.7).
10 – O vinho, para ser conservado e  obter suas propriedades alcoólicas, era colocado em odres para fermentar. Jesus conhecia este poder de fermentação, utilizando-o em suas parábolas, e reconhecia que o vinho velho, fermentado, era o melhor – Ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte, o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos, juntamente, se conservarão. E ninguém, tendo bebido o velho, quer logo o novo, porque diz: melhor é o velho (Lc. 5.37-39)
11 – Pelo método da inferência, desprezado por alguns, dá para entender que o próprio Senhor Jesus bebia vinho, evidentemente com moderação – Porque veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores (Lc. 7.33,34); E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba, de novo, convosco, no reino do meu Pai. (Mt 26.29 - o texto, relatando a instituição da Ceia quando Jesus repartiu o vinho entre os discípulos, sugere que Ele bebera vinho no passado e no presente, mas a partir de agora não mais o beberia, senão no Reino de Deus)
12 – Nos ensinos de Paulo nota-se que o uso moderado do vinho era tolerado para os diáconos e para as mulheres idosas (viúvas) da igreja – Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância (1 Tm. 3.8); As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem... (Tt 2:3 - Observe a frase: “Não dados(as) a muitovinho”. O que se entende com a presença do advérbio de intensidade muito? Que os diáconos e mulheres obreiras da Igreja podiam tomar pouco vinho, ou seja, beber moderadamente, enquanto os bispos deveriam ser abstêmios, conforme 1 Tm 3:2-3. Neste caso, observemos que Timóteo, como ministro do evangelho, se enquadrava entre os abstêmios, mas por motivos medicinais e somente por este motivo é liberado a tomar um pouco de vinho como remédio para seus males estomacais (1 Tm 5:23). Em momento algum este texto é base bíblica ou incentivo ao uso de vinho, mas uma concessão especial a um abstêmio, por razões médicas.
13 – Paulo dá a entender que o vinho utilizado na ceia do Senhor era alcoólico e embriagante - De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia, e, assim, um tem fome e outro embriaga-se. (1 Co 11:21). No texto, Paulo critica os que chegavam à ceia do Senhor e, sem moderação e sem esperar pelos outros, comiam e se embriagavam. Aqui, a palavra grega usada para ‘embriaga-se’ é ‘methuô’, que tem significado de estar bêbado. Não significa, como tentam justificar as notas da BEP, estar farto ou com o estômago cheio, pois neste caso as palavras gregas que seriam usadas seriam ‘chortazô’ ou ‘empletô’, as mesmas utilizadas nos textos que relatam as multiplicações de pães e peixes feitas pelo Senhor Jesus, como Mt 14.20, 15.37 e Jo 6.12-13. Em Mateus 5:6, quando Jesus afirmou “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão fartos”, encontramos no texto a palavra ‘chortazô’. Em Lucas 6:25, quando Jesus exclama “Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome”, encontramos no texto a palavra ‘empletô’.
Como se pode observar, a Bíblia não contém apenas textos proibitivos ao uso do vinho, mas também permissivos. Assim sendo, não podemos de forma alguma concluir precipitadamente que o seu uso pelos cristãos seja pecado. Faz-se necessária uma análise imparcial e séria para que cheguemos a qualquer conclusão. Usar os textos da Bíblia que condenam a embriaguez e os malefícios do mal uso do álcool para proibir ou coibir seu uso consciente e moderado, é a mesma coisa que proibir relações sexuais entre um casal baseado em todos os textos que condenam a imoralidade sexual.
O MÉTODO INDUTIVO
O terceiro erro cometido pelo amado irmão foi afirmar que o método de estudo bíblico chamado de indutivo ou inferência, muito usado pelos defensores do uso do vinho, não é suficiente para explicar o texto do debate, pois nas palavras dele, “as nossas faculdades mentais são insuficientes para dar sustentação a interpretações de alguns textos da Bíblia. Só se estivermos loucos”.
Discordo totalmente. É exatamente o método indutivo que dá resposta satisfatória ao texto em foco e a muitas outras passagens da Bíblia Sagrada que nos são obscuras e de difícil compreensão. É pela indutividade, ou raciocínio lógico, após minuciosa e imparcial análise nas entrelinhas do texto e contexto, que podemos encontrar a resposta que nem o nobre irmão nem suas fontes de pesquisa puderam dar. É evidente que são necessárias premissas corretas e coerentes, e o contexto global da Bíblia (a Bíblia não contradiz a Bíblia) junto ao bom senso nos mostrarão quando o método indutivo é adequado ou não.
O raciocínio indutivo me leva a concluir que o que levava os participantes das festas a ficarem tão alegres pela ação do álcool a ponto de não notarem mais a diferença entre o primeiro vinho servido e os demais era o fato de eles já estarem embriagados pelo primeiro, com seus sentidos não tão apurados para perceberem as diferenças entre dois ou mais tipos de vinho. Somente o mestre-sala, uma espécie de “copeiro” que administrava a festa e permanecia sóbrio para poder provar a qualidade das comidas e bebidas servidas, pôde perceber a diferença: “E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem (grego,methuô, ‘estar bêbado’ — a mesma palavra é utilizada em Atos 2:15: “Estes homens não estão embriagados, como vós pensais...” e em Efésios 5:18: “E não vosembriagueis com vinho...”, onde aparece sua variante methuskô), então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho” (Jo 2.10). A orientação do mestre-sala nos mostra a preocupação na ordem da qualidade do vinho a ser servido: primeiro o melhor, o que embriagava mais e tornaria os convidados insensíveis para perceber a qualidade inferior dos últimos a serem servidos, que geralmente eram até misturados com água, para que rendessem mais. Se o vinho transformado por Jesus fosse apenas suco de uva fresco, sem propriedades alcoólicas, como propôs o amado articulista, certamente o mestre-sala ressaltaria esta propriedade de ausência de álcool, e talvez até por este motivo vetasse servir tal bebida, já que os convidados estavam na festa justamente para beber e se embriagar. Contudo, ele observou que o melhor vinho fora guardado até então, o de melhor qualidade, o de propriedades alcoólicas mais adequado para ser servido primeiro.
Primeiro serve-se o melhor, e depois o inferior; esta ordem de serviço só funciona com bebidas alcoólicas, e jamais para bebidas sem álcool, pois os convidados, sóbrios, perceberiam facilmente a troca. Vamos dar um exemplo: em uma determinada festa serve-se Coca-Cola, um refrigerante de cola de inegável qualidade superior. No fim da festa, acabando a Coca-Cola, passa-se a servir um refrigerante de fabricação local, de paladar e qualidade inferior. Os convidados certamente perceberiam a mudança facilmente, pois não estariam embriagados nem com suas faculdades sensitivas alteradas! A simples substituição da Coca-Cola comum pela sua versão Zero ou Light é facilmente percebida por qualquer um, dada a variação de sabor! Com o vinho, após os convidados “beberem bem”,  isto não ocorreria, pois eles teriam atingido um estado de torpor próprio do consumo de álcool, e teriam suas sensibilidades reduzidas ao ponto de não notarem a substituição.
Além do mais, o raciocínio usado pelos defensores da tese de que Jesus transformou água em vinho não alcoólico carece de fundamento se analisados indutivamente. Segundo eles, a palavra grega methê e suas variantes (a mais usada é methuô) também têm significado de 'estar farto, cheio, de barriga cheia'.  Analisemos intuitivamente a passagem: “Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem (methuô), então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho” (Jo 2.10). Poderia uma pessoa de barriga cheia e farta aceitar alimento ou bebida de qualidade inferior? Quem, em um churrasco, comendo carne de primeira qualidade, comeria, após estar farto, carne de terceira qualidade? Quem, tomando um bom vinho ou um refrigerante de qualidade superior, estando “cheio”, ainda beberia uma bebida de qualidade inferior? O oposto seria bem possível: em um churrasco, você se empanturrou de carne de segunda ou terceira qualidade, não aguenta mais comer nada, mas se de repente passam a servir picanha. Você faz um esforço e come mais alguns pedaços, dada a melhor qualidade da carne servida. O contrário, porém, é muito improvável.
O método indutivo é tão importante que traz luz a textos de difícil interpretação da Bíblia. Deixe-me dar dois exemplos:
O caso da mulher de Caim – Gn. 4.17
E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoque; e ele edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho Enoque;
A Bíblia até este ponto só tratou da criação do mundo, do primeiro casal e dos seus primeiro filhos. Caim, Abel e Sete. De onde apareceu misteriosamente esta mulher que Caim desposou? Será que existiu uma outra criação paralela, como defendem alguns? Muitas perguntas têm surgido e ate criticas ferrenhas à doutrina criacionista e, consequentemente, à própria Bíblia. Ensinos errados têm surgido por causa deste ponto difícil de entender.
Mas observando o contexto global da Bíblia, tomando ainda por base uma passagem que se encontra em Atos 17.26 (E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação) e usando a intuição eu encontro uma interpretação satisfatória para o texto, ou seja, a mulher de Caim só pode ter sido uma irmã sua (a não ser que ele casou com uma macaca e a Bíblia errou e chamou-a de mulher!). Este incesto primitivo jamais poderia ser considerado pecado, pois seja qual for a espécie, criada ou surgida por evolução, teria que procriar e multiplicar através da união de um primeiro casal; este casal geraria filhos, e estes filhos não teriam outra opção senão procriar com as próprias irmãs. Não há outra forma de procriar uma espécie, sejamos nós criacionistas ou evolucionistas.
O caso da sessão espírita de En-Dor. 1 Sm. 28.3-20.
Se não usarmos a indutividade, teremos dificuldades em interpretar o texto, haja vista a forma convincente em que o texto é apresentado. Mas observemos o seguinte:
1 – Era costume os escritores da Bíblia registrarem acontecimentos que lhes eram contados. É necessário, portanto, que compreendamos que o acontecimento era humano, narrado por terceiros, e a inspiração era divina (aprouve a Deus colocar tal fato na Escritura Sagrada).
2 – Saul era morto. Portanto não foi ele que narrou os fatos ao escriba.
3 – A mulher feiticeira jamais narraria os fatos para o escriba, pois iria se condenar pela pratica de feitiçaria, o que era punido com a morte naqueles dias em Israel.
4 – Só nos restam os dois servos de Saul que foram com Ele.
Quem eram estes homens? Geralmente eram escravos, capturados nas guerras vencidas por Israel, na grande maioria estrangeiros e supersticiosos que criam nestas coisas. Pelo método indutivo, chegamos à conclusão de que é mais provável que tenham sido eles quem narraram os fatos para outras pessoas, e o fato chegou ao conhecimento do homem de Deus que escreveu o fato no livro sagrado da forma que ouviu. Somente usando a intuição eu encontro uma explicação e interpretação satisfatória para o assunto. Não se trata de explicação definitiva, mas da explicação mais coerente, que não venha a contradizer a unidade das Escrituras.
Finalizando está parte, digo: querer desprezar um método tão eficiente de estudo como o indutivo só porque alguns grupos hereges também se utilizam dele para deturpar a Palavra de Deus, como é o caso dos movimentos homossexuais, não é uma atitude coerente, pois outros métodos também são usados por movimentos heréticos e falsas religiões e seitas, o que não desqualifica ou desmoraliza tais métodos. Se tudo o que hereges usassem devesse ser desprezado pelos cristãos, desprezaríamos até a Bíblia, que eles também a usam, mesmo que distorcida, para sua própria condenação (2 Pe 3:16).
FONTES DE PESQUISA
O quarto e ultimo erro cometido pelo amado irmão — que eu considero como o mais grave, pois nos leva ao perigo da alienação — foi ter limitado a sua pesquisa a material publicado pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), principalmente as notas e estudos da Bíblia de Estudo Pentecostal. A CPAD tem opinião fechada em alguns assuntos, seguindo a orientação do Conselho Doutrinário da Igreja. Não que nós desprezemos toda e qualquer posição teológica e doutrinária desta abençoada vertente denominacional, mas não somos forçados a concordar com todas as suas conclusões, e muito menos aceitá-las sem pesquisar outras fontes, pois não é possível imaginar que SOMENTE uma vertente denominacional, seja ela a Assembleia de Deus ou qualquer outra, tenha capacidade para entender e explicar um texto obscuro.
A questão do vinho é questão fechada para a Igreja Assembleia de Deus, ou seja, segundo ela o crente não deve absolutamente beber vinho, e consequentemente o vinho que Jesus fez a partir da água não podia ter propriedades embriagantes. E ponto final! Não aceitam nem ao menos debater o assunto usando outras fontes ou outras opiniões. A Bíblia de Estudo Pentecostal segue esta posição fechada; é fácil perceber que nas suas fontes bibliográficas não são citadas obras de outras editoras, a não ser da CPAD. Isto até é normal entre as editoras das igrejas, e não se constitui em erro grave, mas achar que tudo que a CPAD ensina é exatamente o que a Bíblia gostaria que aprendêssemos, é outra coisa. É perfeitamente salutar possuir e consultar obras da CPAD, que é uma abençoada editora cristã ligada a uma não menos abençoada denominação evangélica, mas devemos também ter e consultar obras de outras editoras para alargar nossa área de visão e não ficarmos presos a uma única opinião teológica.
As questões fechadas são, em seu âmago, um tanto quanto perigosas. Na tentativa de coibir abusos e problemas internos, algumas denominações criam certas doutrinas de usos e costumes que nem sempre têm embasamento claro na Bíblia, mas mesmo assim adquirem força e status doutrinário na igreja. Podemos citar como exemplo disso a questão da proibição do uso de calças compridas para as mulheres e do uso de barba para os homens, que não têm base bíblica, mas são doutrinas fortes no seio de muitas denominações. Algumas denominações só permitem que homens preguem a palavra em seus púlpitos se estiverem devidamente vestidos de paletó e gravata, embora a Bíblia nada prescreva neste sentido... O mesmo se aplica ao uso da barba, que algumas denominações repudiam. E por aí segue...
Entretanto, salientamos que a maioria das doutrinas de usos e costumes, mesmo as que não possuem base clara nas Escrituras, são saudáveis à igreja, e bem faz o crente se as observar. Entretanto, não podemos jamais considerá-las mais importantes que a Bíblia, e nem devemos observá-las de forma cega, fanática e alienada. A Bíblia deve ser sempre o Norte a ser seguido, e na ausência de orientação escriturística, o bom senso deve sempre ser observado.
A QUESTÃO DO VINHO ― NOS TEMPOS BÍBLICOS E NOS DIAS ATUAIS
Postas as nossas opiniões iniciais acerca da obra recebida e dos erros preliminares cometidos por seu autor, vamos tratar do assunto em questão: o vinho, seu uso pelo cristão e o teor alcoólico do vinho produzido por Jesus em Caná da Galileia.
Defendemos que o vinho dos tempos bíblicos era alcoólico, e que o produto do primeiro milagre do Senhor Jesus Cristo seguia este padrão. Também defendemos que na Bíblia não há proibição clara e inequívoca do uso moderado do vinho, exceto nas restrições ministeriais, que serão tratadas mais adiante. Logo, o crente de nossos dias não é proibido pela Bíblia de beber vinho alcoólico, desde que de forma consciente e moderada, sem embriaguez e sem a geração de escândalos.
A questão do vinho alcoólico na igreja brasileira, mormente as mais radicais, é fruto de dois erros primários: o primeiro é a leitura e a interpretação equivocada da Bíblia, que em nenhum momento e em nenhum lugar afirma ser pecado beber vinho, mas em vários lugares claramente afirma ser pecado a embriaguez. Ocorre, porém, que a maioria dos crentes simplesmente “acha” que beber vinho alcoólico é pecado e procura fazer com que os textos bíblicos pareçam referendar os seus “achismos” e conclusões, usando apenas os textos proibitivos e manipulando-os para que pareçam concordar com seu ponto de vista.
Neste afã de provar que o uso do vinho é pecado, apela-se até para argumentos falaciosos. Já escutei que crente não pode beber vinho e nem outros tipos de bebida alcoólica, porque os cultos afrobrasileiros se utilizam delas para "despachos", oferendas e rituais. Assim sendo, pode o crente comer pipoca, usada em rituais afros e chamada de "a flor de Omulu" (ou Obaluaê, o São Lázaro do sincretismo religioso)? Pode comer galinha e farofa, tão utilizados em despachos? Pode o crente usar perfumes e bijuterias, tão utilizados nas oferendas a Iemanjá? Vê-se por aí a fragilidade dos argumentos apresentados...
O segundo erro é cultural. Os principais evangelizadores do Brasil foram os missionários norte-americanos, no final do século XIX e início do XX. Neste tempo imperava nos EUA uma campanha muito forte contra o álcool, que culminou com a decretação da “Lei Seca” no país. Nossos pioneiros procuraram implantar na igreja brasileira esta mesma aversão ao álcool, e por isso herdamos essa verdadeira ojeriza contra quase tudo que contém álcool: fruto da cultura norteamericana de uma época.
Poucas pessoas conhecem no Brasil uma frase famosa dita por Martinho Lutero com relação à bebida alcoólica. Questionado sobre o fato de ter sido o grande responsável pelo cisma que dividiu a Igreja Católica Romana, ele respondeu: “Eu não fiz nada; eu apenas preguei a Palavra de Deus, e enquanto tomava a minha cerveja a Palavra de Deus foi destruindo todo aquele império”. Para nós, crentes brasileiros, tal afirmação soa quase como uma blasfêmia! Por quê? Porque nos foi imposta uma forte cultura antiálcool pelos pioneiros americanos. Se tivéssemos sido evangelizados pelos europeus não teríamos esse trauma em nossos dias. Basta fazer uma pesquisa isenta em todos os países europeus e nos países por eles evangelizados, e veremos que por lá os crentes bebem, moderada e normalmente, sem produzir qualquer escândalo. Lutero, como bom alemão, bebia cerveja.
E o pior: até as bebidas sem álcool — cervejas, vinhos, sidras etc — também são condenadas para o uso cristão, embora não tenham álcool em sua composição! Durma-se com um barulho desses!!
E o pior!!! Quando algum crente bebe moderadamente não produz escândalo apenas entre os crentes, mas também entre os não-crentes, que foram exaustivamente“ensinados” que crente não bebe... Este tipo de escândalo também não ocorre nos países europeus, pois as pessoas compreendem que o problema maior das bebidas alcoólicas não está no seu uso, e sim no seu MAU uso: na embriaguez. A Bíblia é clara: “não vos EMBRIAGUEIS com vinho...” (Ef 5:18).
ARGUMENTOS
Eu já ouvi vários tipos de argumentos favoráveis e contrários à bebida. Com certeza os irmãos também, mas só para recapitular deixe-me colocar aqui alguns, os mais comuns:
  • O VINHO NOS TEMPOS BÍBLICOS NÃO CONTINHA ÁLCOOL — Infelizmente isso não é verdade. Noé, primeiro usuário de vinho relatado pela Bíblia, embebedou-se, e isto só foi possível graças ao álcool; Ló foi embriagado com vinho pelas suas filhas; Davi usou vinho para embriagar Urias; os sacerdotes eram proibidos de beber vinho por ocasião da ministração no altar, proibição que não teria qualquer razão óbvia se o vinho da época fosse sem álcool. A maioria dos textos proibitivos do vinho e das demais bebidas fortes no AT se davam por causa do álcool, que provocava embriaguez e transtornos da personalidade. Logo, tal afirmação não é verdadeira.
  • O POVO BEBIA VINHO NOS TEMPOS DE JESUS POR FALTA DE ÁGUA —Isso também não é verdade. Se havia esta falta de água, como é que Jesus transformou aproximadamente 600 litros de água em vinho (Jo 2:6-7) nas bodas de Caná? Ao contrário, os judeus, por serem muito criteriosos com a higiene, sempre mantinham uma boa quantidade de água armazenada em suas casas.
  • O VINHO QUE JESUS E OS PRIMEIROS CRISTÃOS BEBIAM NÃO CONTINHA ÁLCOOL — Lamentavelmente, isto também não é verdade. É uma tentativa dos radicais em forçar a Bíblia a concordar com os seus “achismos”. O próprio Senhor Jesus foi chamado de beberrão por seus opositores (alguém já ouviu alguém ser chamado de beberrão por beber suco de uva não alcoólico?); o apóstolo Paulo repreende os cristãos de Corinto por se embebedarem na ceia do Senhor (como, se era usado suco de uva??). Além disso, se não havia vinho alcoólico naquele tempo, por que os escritos do Novo Testamento fazem admoestação para que não nos embriaguemos com vinho (Ef 5:18) e impõe restrições ao seu uso por bispos e diáconos (1 Tm 3:1-8)?
  • PAULO DIZ EM ROMANOS 14:21 QUE “BOM É NÃO BEBER VINHO” — É importante lermos o versículo todo e o analisarmos o seu contexto. No mesmo verso Paulo também diz que “não é bom comer carne ou fazer qualquer outra coisa que faça tropeçar o teu irmão”. Levado ao pé da letra, este versículo nos desautorizaria a fazer churrascos, pois o comer carne também é citado. O problema não está no comer e no beber, e sim no escandalizar. O "escandalizar" incluiria o ato de ir a praia, de vestir uma bermuda, de cortar os cabelos (mulheres), usar maquiagem, praticar esportes etc... Depende do nível de radicalismo das pessoas que nos rodeiam. Mais adiante procuraremos explicar melhor este argumento.
  • FUGI DA APARÊNCIA DO MAL — Em algumas igrejas mais radicais se condena até beber guaraná em público, pois tem “a aparência do mal” (parece com cerveja, tem a mesma cor, faz espuma...). Sem comentários!
  • O QUE IMPORTA É O QUE SAI PELA BOCA, E NÃO O QUE ENTRA POR ELA — Este argumento é muito utilizado pelos defensores do uso de vinho alcoólico, e realmente Jesus afirmou isso em Mateus 15:17-18. Eu peço aos que pensam assim que comam veneno (eu sugiro estricnina ou cianureto!) para testar se isso é verdade mesmo, ou se foi uma forma de Ele nos transmitir um certo princípio espiritual com uma figura de linguagem!
  • PAULO AUTORIZOU TIMÓTEO A BEBER VINHO; LOGO, ESTÁ LIBERADO! — Mais um argumento dos defensores do vinho que é usado completamente fora do seu contexto! O texto em questão não é uma liberação para todos, e sim uma concessão a Timóteo, um pastor que, por sua posição eclesiástica, deveria ser abstêmio (1 Tm 3:1-3). No texto em questão, Paulo o orienta a fazer uso de vinho como medicamento, em pequenas doses medicinais, para tratar males do estômago e outras enfermidades. Embora eu seja defensor do uso do vinho, preciso ser coerente: em momento algum este texto é permissivo ao uso “social” de vinho ou de outras bebidas alcoólicas, e sim para os abstêmios que precisem fazer uso de vinho ou de outra substância normalmente não usada por cristãos, por exclusiva questão de saúde!
ALCOÓLICO OU NÃO?
Desde os tempos mais antigos o vinho é conhecido e utilizado na Bíblia até mesmo por homens de Deus. A palavra vinho aparece mais de 200 vezes na Bíblia. O primeiro texto bíblico que cita o vinho relata também a embriaguez de Noé. Com absoluta certeza, se ele não tivesse bebido vinho até se embriagar, jamais teria sido relatado o ocorrido... Na segunda citação, Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, traz pão e vinho para fazer uma cerimônia de aliança com Abrão e abençoá-lo, indicando que já era usado pelos sacerdotes da época, mesmo antes da lei mosaica, em rituais religiosos (mais tarde, o próprio Senhor Jesus utilizou vinho para a instituição da Nova Aliança); observe-se que nada mais é relatado em relação ao vinho, nem mesmo é citado que o vinho foi bebido por eles (isto se deduz, é claro! Se foram trazidos pão e vinho, subentende-se que o pão foi comido e o vinho foi bebido!), porque certamente Melquisedeque e Abrão não se embriagaram... Eis a grande diferença entre o mau uso e o bom uso do vinho: Abrão e Melquisedeque certamente o beberam moderadamente, ao passo que Noé se embebedou.
Nas citações seguintes (Gn 19:32-34) as filhas de Ló embriagam o pai com vinho e se deitam com ele... Ou seja, somente alguém que nunca leu a Bíblia de forma séria ou foi submetido a algum tipo de lavagem cerebral acredita que o vinho da Bíblia não continha álcool.
Outras pessoas na Bíblia fizeram uso do vinho sem qualquer menção de embriaguez. Isaque bebeu vinho antes de abençoar seu filho Jacó (Gn 27:25); A bênção de Jacó a seu filho Judá trazia o vinho como sinal de bênção (Gn 49:9-12); José, governador do Egito, tinha um cálice (Gn 44:5), e não venham me dizer que era para beber água! Davi distribuiu vinho para o povo, por ocasião da chegada da arca da aliança a Jerusalém (2 Sm 6:19). Neemias era copeiro do rei Artaxerxes (Ne 1:11; 2:1), e o papel de um copeiro era provar os alimentos e as bebidas que seriam servidas ao rei, inclusive o vinho, para comprovar a qualidade e prevenir envenenamentos. A rainha Ester, após um período de jejum e consagração, convidou o rei Assuero e seu ministro Hamã para participar de dois dias de festa que ela mesma chamou de “banquete do vinho” (Et 5:6; 7:1-2).
Daniel, o grande homem de Deus, bebia vinho. No início de sua história ele tomou a decisão de não comer ou beber das iguarias do rei, mas ao que nos parece foi um período voluntário de consagração, e ele não passou toda a sua vida bebendo apenas água e comendo apenas legumes. Mais adiante de sua vida, quando resolveu fazer três semanas de jejum e consagração, ele relata: manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras (Dn 10:3). Dá pra deduzir que antes das três semanas e depois delas, ele consumiu carne, manjares desejáveis e vinho (heb. - yayin; gr. LXX - oinos).
No Novo Testamento, a Escritura dá a entender que o próprio Senhor Jesus bebia vinho, e Ele mesmo demonstra que o vinho da época era alcoólico quando se refere à critica que lhe faziam: “Porque veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão, e bebedor de vinho [gr. OINOPOTES, bebedor de vinho, bêbado], amigo dos publicanos e dos pecadores (Lc 7:33-34 - grifos meus). Achar que Jesus só bebia vinho não alcoólico é forçar o que a Bíblia não afirma, pois não há razão de chamar alguém de bebedor de vinho se este vinho não é alcoólico.
NÃO VOS EMBRIAGUEIS COM SUCO DE UVA
A Escritura é clara: “Não vos embriagueis com vinho...” (Ef 5:18). Quando o apóstolo Paulo escreve esta admoestação à igreja, deixa claro que ele sabia que os crentes de sua época faziam uso de vinho, e que não se tratava de suco de uva, e sim de vinho alcoólico, senão seria uma instrução desnecessária ― para que proibir a embriaguez, se suco de uva não embriaga? É o mesmo que admoestar um grupo de jovens que vai à uma pizzaria: "Não se embriaguem com refrigerantes!".
O mesmo texto me mostra que me foi permitido beber vinho, desde que eu não me embriague com ele. Óbvio! É como uma criança que quer beber um copo de achocolatado e seus pais lhe advertem: “— Não suje sua roupa!”. Houve proibição de tomar o achocolatado? Não; apenas uma instrução, feita no sentido de se evitar um “efeito colateral” do achocolatado: a sujeira da roupa. Em Provérbios 23:1-2 há uma instrução para quando formos convidados a um banquete: “mete uma faca à tua garganta, se és homem glutão”. Por acaso fomos proibidos de ir ao banquete, ou de comer, ou orientados a moderarmos nosso apetite?
Não há no texto nenhuma proibição de beber vinho! Se houvesse, Paulo teria dito claramente: “E não bebais vinho...”. Ao contrário, ele nos orienta, nas entrelinhas:  “Quando beberdes vinho, não vos embriagueis com ele”. Qualquer pessoa de bom senso que leia 1 Timóteo capítulo 3 e Tito capítulo 2 vai perceber que a Escritura é clara e específica em relação às proibições do uso de vinho: os bispos (pastores) devem ser abstêmios; os diáconos, diaconisas e por dedução os demais obreiros da Igreja devem ser dados a POUCO vinho, e nenhuma instrução é dada aos demais irmãos, exceto a proibição bíblica da embriaguez. Simples de entender, mas muita gente faz questão de complicar...
Se alguém tentar trocar nos textos bíblicos a palavra ‘vinho’ por ‘suco de uva’ não vai funcionar; as passagens perderão completamente o sentido. Se tentarmos fazer esta troca no relato da festa de Caná, vai ficar algo absurdo assim: “E, logo que o mestre-sala provou a água feita SUCO DE UVA (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os empregados que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo. E disse-lhe: Todo homem põe primeiro o SUCO DE UVA bom e, quando já têm bebido bem, então, o inferior; mas tu guardaste até agora o bom SUCO DE UVA (Jo 2:9-10).
Outro exemplo? “E não vos embriagueis com SUCO DE UVA, no qual há contenda...” (Ef 5:18). Seria possível alguém se embriagar com suco de uva não alcoólico? E se não, para que serviria esta admoestação do apóstolo?
Mais um, para encerrar? É necessário, portanto, que o bispo seja ... não dado ao SUCO DE UVA, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento... Semelhantemente, quanto aos diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito SUCO DE UVA, não cobiçosos de sórdida ganância...” (1 Tm 3:2-8). Se o suco de uva não embriaga, qual a diferença entre abster-se, beber moderadamente um ou dois cálices, ou beber vinte litros? Aplique-se este princípio para QUALQUER bebida não alcoólica (água, leite, suco, refrigerante...), e chegaremos à mesma conclusão.
EVIDÊNCIAS DO VINHO ALCOÓLICO NOS TEMPOS BÍBLICOS
Além disto, as evidências bíblicas e históricas deixam claro que o vinho da época de Jesus era alcoólico. A maior evidência é o atraso tecnológico da época no tocante à conservação dos alimentos.
Hoje, nós só conseguimos comer uvas e beber seu suco em qualquer época porque além de já existirem várias safras no ano (o que não existia nos tempos de Jesus, mas apenas uma colheita por ano) existem vários métodos de conservação para o suco industrializado. Entre estes métodos destacamos a pasteurização (processo inventado por Louis Pasteur), a adição de conservantes químicos, o uso de embalagens apropriadas para manter o produto em condições de consumo por meses ou anos e o armazenamento em locais apropriados para o vinho (adegas climatizadas). Portanto, pode até ser que os judeus do tempo de Jesus Cristo bebessem suco de uva, mas isso só acontecia em um breve período após a colheita, já que não dispunham de meios de conservar este suco não fermentado — não havia refrigeradores, nem o processo da pasteurização, e também não existiam as embalagens modernas que conservam os alimentos (tetra pak) e nem quaisquer produtos químicos conservantes. Qualquer suco de uva guardado por dois ou três dias, uma semana no máximo, fermentaria e acabaria virando algum tipo de vinho, vinagre ou criaria fungos (mofo) que o tornariam impróprio para o consumo. Isto acontece até em nossos dias, mesmo com os processos de conservação existentes. É só abrir uma garrafa ou caixinha longa vida de suco de uva, e deixá-la aberta, mesmo na geladeira, por vários dias.
Como então era feito o armazenamento do suco da uva nos tempos de Jesus de forma a conservá-lo por pelo menos um ano, até a próxima colheita? Para compreendermos isto, é necessário conhecer o processo de plantio e colheita das uvas, o preparo do seu suco e o transporte do produto final do campo para os centros consumidores.
Em quase todos os textos bíblicos que tratam de vinhas (plantações de uvas) vemos que junto a elas havia um lagar, local onde as uvas eram prensadas com os pés e transformadas em suco, pois não havia máquinas para tal. A tarefa de prensagem das uvas era feita imediatamente após a colheita, e a única forma conhecida de se conservar o suco de uva era colocando-o imediatamente em odres onde fatalmente passaria pelo processo da fermentação, que fazia surgir no suco de uva o álcool etílico por processo biológico. Este álcool era indispensável para que o produto não estragasse por um bom período de tempo, enquanto fosse mantido nos odres. É importante compreender que nos tempos bíblicos não havia outra forma de conservação.
Se nos tempos bíblicos o suco da uva não passasse pelo único processo realmente eficiente de conservação, como então seria transportado do campo para as cidades? As distâncias entre o local da produção e os centros consumidores, aliado ao clima quente e à ausência de transportes velozes tornava urgente a conservação do produto para que não estragasse na viagem. Imagine uma viagem com um carregamento de suco de uva não fermentado no lombo de camelos, jumentos e mulas, no clima da Palestina, que durasse no mínimo três dias e responda: em que estado chegaria este suco de uva? E ao chegar, como seria conservado, sem geladeiras nem outros processos de conservação?
Havia um outro processo, não tão eficiente quanto o primeiro, que não produzia o vinho (gr. oinos), e sim o mosto (gr. gleukos)O suco da uva podia ser fervido antes de ser posto nos odres para ser conservado. Há apenas uma citação deste tipo de vinho no Novo Testamento, quando no dia de Pentecostes zombaram dos discípulos dizendo  “estão cheios de mosto! (At 2:13). No AT, a palavra hebraica tiyrosh é traduzida como mosto, e yayin como vinho. Na Septuaginta, na maioria das vezes em que aparece a palavra hebraica tiyrosh ela foi traduzida pela palavra grega oinos (vinho), talvez um indicativo da semelhança entre ambos os produtos, inclusive em relação à presença de álcool.
Os opositores do vinho alcoólico afirmam que o mosto não continha álcool, o que não constitui em verdade, já que sem álcool não era possível haver conservação. Ele possuía um teor de álcool inferior em sua composição em comparação ao vinho tradicional (enquanto o vinho normal tem entre 7 e 16ºGL de álcool, o mosto teria entre 2º e 3ºGL; nos dias de hoje, seria classificado como bebida de baixo teor alcoólico), o que o tornava um meio termo entre o suco de uva fresco (sem álcool, mas que não podia ser conservado por muito tempo) e o vinho (que podia ser conservado por muito tempo, pelo menos até a próxima colheita). Eram dois subprodutos da uva totalmente diferentes, e a Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento, diferenciava claramente um do outro. Em Oséias 4:11 esta diferença fica clara, assim como a presença de álcool em ambos os produtos, quando Deus afirma que a sensualidade (gr. LXX - porneia), o vinho (gr. LXX - oinon) e o mosto(gr. LXX - methusma) tiram a inteligência”; se o mosto não continha álcool, como então tirava a inteligência? É interessante observar que os tradutores da Septuaginta traduziram neste versículo a palavra hebraica tiyrosh (mosto) para o grego methusma, uma variante de methuô (embriagar-se)Coincidência?
Não há outra conclusão a se chegar, senão que o vinho dos tempos bíblicos era fermentado e, conseqüentemente, alcoólico. O vinho podia ser armazenado por um ano a mais, até a próxima colheita, enquanto o mosto conservava-se por poucos meses. Sem qualquer das duas formas de fermentação, toda a produção de suco de uva estaria perdida em poucos dias! Tudo isso nos faz concluir que, por exemplo, o vinho trazido por Melquisedeque em sua viagem de encontro com Abrão só podia ser fermentado, acondicionado adequadamente em odres (a não ser que este encontro tenha ocorrido nos dias da colheita).
Outra evidência: quando o salmista fala das coisas que Deus faz, o vinho está incluído como algo que o próprio Deus faz para alegrar o coração do homem, ao lado do azeite e do pão: “Ele rega os montes desde as suas câmaras; a terra farta-se do fruto das suas obras. Ele faz crescer a erva para os animais e a verdura, para o serviço do homem, para que tire da terra o alimento e o vinho que alegra o seu coração; ele faz reluzir o seu rosto com o azeite e o pão, que fortalece o seu coração (Sl 104:13-15). Será que alguém é ingênuo o suficiente para ler “...e o suco de uva que alegra o seu coração?
Prossigamos: a exortação para a celebração da ceia do Senhor era de que os irmãos se controlassem para não ficarem embriagados, uma admoestação que não faria qualquer sentido se a ceia fosse celebrada com suco de uva: “Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome, e outro embriaga-se” (1 Co 11:21)Os opositores do vinho afirmam que a palavra ‘embriagar-se’ aqui tem sentido de ‘fartar-se’, mas tal afirmativa não tem nenhum respaldo na linguística grega. A palavra encontrada no texto em questão é METHUÔ, que significa ‘embriagar-se’; as palavras para ‘estar farto’ seriam CHORTAZÔ ou EMPLETÔ. São palavras diferentes. Insistir neste ponto é assemelhar-se a uma Testemunha de Jeová que teima em afirmar que Jesus morreu em uma estaca, e não numa cruz.
Além disso, o próprio primeiro milagre de Jesus se tornaria em motivo de chacota e gozação. Mesmo que alguém resolva fazer uma festa de casamento com suco de uva (nós, crentes, não o fazemos só com refrigerantes?), quem contrataria um mestre-sala para degustar e aprovar suco de uva numa festa? Qual mestre sala iria elogiar um segundo suco de uva como sendo melhor que o primeiro servido? Naquele tempo, o “mestre-sala” era como um copeiro em uma corte real, que experimentava todas as comidas e bebidas antes que fossem servidas, aprovando-as ou reprovando-as. Enfim, não era apenas alguém capaz de organizar uma festa, mas também um degustador em matéria de comidas e bebidas, como um chefe de buffet de nossos dias.
O mestre sala das bodas de Caná considerou a água transformada por Jesus em ‘suco de uva’ como sendo de melhor qualidade em comparação ao ‘suco de uva’ servido anteriormente. Mas... alguém conhece um suco de uva melhor que o outro?? Na época, havia marcas comerciais diferentes de suco de uva? Claro que não, a não ser que fosse um mais diluído e outro menos! A diferença do vinho alcoólico, entretanto, determinava-se pelo tempo de fermentação: quanto mais fermentado, mais alcoólico. Em relação ao suco de uva sem fermentação, mesmo considerando as muitas marcas comerciais existentes nos dias atuais não se percebe grande diferença entre eles. Mensalmente é utilizado suco de uva na ceia do Senhor da minha igreja, e sempre são usadas marcas diferentes (sei que são marcas diferentes porque vejo as senhoras da igreja, entre elas a minha esposa, preparando as bandejas com os cálices, e observo que as marcas são constantemente trocadas), mas jamais percebi a diferença de sabor entre eles.
Mas a Escritura é clara em uma coisa, ao afirmar a principal das evidências que aponta para o vinho alcoólico: o Senhor Jesus não só conhecia o processo de colocar o suco da uva nos odres para fermentar, mas também tinha uma opinião formada acerca do melhor produto final. Em Lucas 5:37-39 vemos o Senhor afirmar que “ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte, o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos, juntamente, se conservarão. E ninguém, tendo bebido o velho, quer logo o novo, porque diz: melhor é o velho”. Apesar de o texto em questão não estar cuidando de questões de vinho, e sim fazendo um confronto entre Cristianismo versus Judaísmo (Jesus afirma que estava trazendo um novo vinho, uma nova doutrina, e pondo-a em novos odres, a Igreja que Ele mesmo estava criando; era natural que as pessoas preferissem a velha doutrina, a velha religião. Esperem, porém, até “o vinho novo” fermentar, e todos o aceitarão mais facilmente). Mas o texto indica claramente a opinião existente na época sobre o melhor vinho existente, em comparação do vinho novo, recém espremido e sem álcool, e o vinho velho, fermentado e alcoólico. O Mestre, como a maioria das pessoas sensatas, compreendia qual era o melhor vinho: não o suco puro da uva sem fermentação e recém colocado nos odres, mas o vinho velho, o suco da uva que havia passado pelo único processo de conservação conhecido na época, acondicionado em odres por um bom período, tempo suficiente para deixar de ser novo e passar a ser considerado velho, transformando-se em vinho alcoólico!
SEIS MESES DEPOIS...
Mais um ponto importante que põe por terra a discussão sobre suco de uva e vinho: a festa da Páscoa ocorria na primavera (entre março e abril) e durava 7 dias, e a festa dos Tabernáculos ou festa da colheita no outono (entre setembro e outubro), também durando 7 dias. Vejamos alguns textos, com grifos meus para melhor compreensão:
A festa dos tabernáculos celebrarás por sete dias, quando tiveres colhido da tua eira e do teu lagar. E na tua festa te regozijarás, tu, teu filho e tua filha, teu servo e tua serva, e o levita, o peregrino, o órfão e a viúva que estão dentro das tuas portas. Sete dias celebrarás a festa ao Senhor teu Deus, no lugar que o senhor escolher; porque o Senhor teu Deus te há de abençoar em toda a tua colheita, e em todo trabalho das tuas mãos; pelo que estarás de todo alegre”  (Dt 16:13-15).
“Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo, será a Festa dos Tabernáculos ao SENHOR, por sete dias” (Lv 23:34)
No mês primeiro, aos catorze do mês, no crepúsculo da tarde, é a Páscoa do SENHOR” (Lv 23:5).
Foram, pois, [os apóstolos] e acharam tudo como [Jesus] lhes dissera e prepararam a páscoa. E, chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. E disse-lhes: Tenho desejado ardentemente comer convosco esta páscoa, antes da minha paixão; pois vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus. Então havendo recebido um cálice, e tendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós; porque vos digo que desde agora não mais bebereido fruto da videira, até que venha o reino de Deus”  (Lc 22:13-18).
Explicando para melhor compreensão: se fôssemos comprar o calendário judeu ao nosso, diríamos que a festa dos Tabernáculos ou da colheita seria no mês sétimo (em Julho), e a Páscoa no primeiro mês (em Janeiro). Ou seja, quando o Senhor participou da última ceia com seus discípulos, era Páscoa e, portanto, haviam passado pelo menos seis meses da colheita das uvas. O cálice que eles beberam certamente não podia conter suco de uva, pois já vimos que não havia outro processo de conservação do suco da uva senão a fermentação em odres. Basta, mesmo nos dias de hoje, guardar suco de uva não pasteurizado e fora de uma embalagem Tetra-Pack por sete meses para ver que se transforma em um caldo embolorado ou, na melhor das hipóteses, em vinagre. Ou seja, na última ceia Jesus e os apóstolos beberam vinho alcoólico mesmo!
EMBRIAGANDO-SE COM MOSTO — OITO MESES DEPOIS...
Como já vimos, os opositores do vinho afirmam que o vinho utilizado pelos crentes na época de Jesus era, na verdade, o mosto, e que esta bebida não continha álcool, o que já vimos não ser verdade, já que sem álcool não era possível haver conservação. Era um produto mais suave e doce, podendo ser comparado ao vinho suave de nossos dias, mas com um teor alcoólico inferior ao da cerveja. Consequentemente, o mosto demorava mais tempo para que seus usuários se embriagassem (óbvio; quanto maior a graduação alcoólica de uma bebida, mais rápida é a embriaguez)Sua produção era semelhante ao do vinho, mas a sua fervura antes de ser posto nos odres fazia com que se tornasse menos susceptível à fermentação. Isto diminuía bastante a sua capacidade de conservação.
É importante observar que a acusação que fizeram aos discípulos de estarem embriagados com mosto foi uma zombaria (Estão cheios de mosto! - At 2:13 - gr.mestoô gleukos). Na ocasião a Bíblia não relata que eles tenham bebido tipo de vinho  (oinos ou gleukos), e mesmo que o tivessem feito certamente teria sido de forma moderada, já que ambos embriagavam por conterem álcool, embora em teores diferentes. Esta moderação, os discípulos com certeza aprenderam com o Mestre.
Mesmo assim, Pedro levantou-se em defesa dos irmãos e afirmou: “Estes homens não estão embriagados [gr. methuô], como vós pensais, sendo esta a terceira hora do dia (At 2:15). Ou seja, como o mosto (gleukos) tinha um teor alcoólico inferior ao do vinho, na terceira hora (9h da manhã) não era possível já estarem embriagados fazendo uso dele.
Na nossa óptica, não havia nada de errado em os discípulos fazerem uso moderado de vinho ou de mosto na ocasião. O fato que buscamos chamar a atenção é que o tempo de conservação do mosto era bem menor que o do vinho, de sorte que dificilmente na época do pentecostes (aproximadamente oito meses após a festa dos Tabernáculos) houvesse mosto à disposição das pessoas. Somente vinho com teor alcoólico normal se conservava por tanto tempo sem estragar.
CARNE E VINHO
Os opositores do vinho usam um argumento sem nem ao menos prestar atenção no que estão falando... Analisam isoladamente o versículo onde Paulo afirma que “bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que o teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça (Rm 14:21). Dizem que aqui Paulo nos aconselha explicitamente a não bebermos vinho para não provocarmos escândalos. Entretanto, é importante observar o contexto, que faz com que o argumento lhes seja mais prejudicial que favorável:
1. Quem observar atentamente o contexto do capítulo 14 da carta aos romanos verá que o tema em questão não é o beber vinho, e sim o comer carne, embora, evidentemente, o princípio ensinado seja aplicável também ao vinho. O capítulo em questão se complementa perfeitamente com os textos de 1 Co 8:1-13 e 1 Co 10:14-33, onde Paulo ensina sobre o comer carne sacrificada aos ídolos. É interessante observar que em nenhum lugar destes três capítulos, exceto em Rm 14:21, é citada a palavra vinho, demonstrando claramente que o debate em questão não é o uso do vinho; ao citá-lo, entretanto, o apóstolo o põe em pé de igualdade com o assunto tratado. Nos textos, o apóstolo deixa muito claro que não é pecado comer carne sacrificada, já que o ídolo nada é e nem tem poder algum. Se o comer carne e o beber vinho estão em pé de igualdade e Paulo mostra que comer carne não é pecado, concluímos que beber vinho também não é.
2. A primeira coisa que Paulo deixa muito clara no texto é que o abstêmio, aquele que não come ou não bebe geralmente por razões religiosas, é fraco (v. 2). Bom seria que os opositores do vinho reconhecessem esta sua condição de fraqueza!
3. Todo o capítulo trata da consciência do crente em relação ao comer carne, e Paulo deixa muito claro o princípio cristão no uso dos alimentos e bebidas: o que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come (v. 3). Simples! Apliquemos o mesmo princípio ao vinho, e resolvem-se quase todos os problemas!
4. Paulo também ressalta que nada é imundo, exceto para aquele que considera tal coisa imunda (v. 13). Isto certamente inclui o vinho, que ele cita mais adiante.
5. Paulo finaliza o assunto nos três textos orientando os fortes a não escandalizarem os irmãos mais fracos. No texto em questão ele aconselha os fortes que se preciso for deixem de comer carne, beber vinho ou fazer qualquer outra coisa para não escandalizar o irmão mais fraco (abstêmio). O termo ‘qualquer outra coisa’ amplia a lista para tudo o que possa provocar escândalo: usar bermuda, usar barba, ir à praia, depilar-se, frequentar bares e restaurantes, ir ao cinema, assistir tevê, ouvir música secular, praticar esportes, passear no shopping center, cortar o cabelo, fazer ‘chapinha’, pintar as unhas e os cabelos e mais uma porção de coisas que, com certeza, iremos escandalizar alguém se as praticarmos... Em suma: vamos ficar em casa sentados, sem fazer nada, pois qualquer coisa que fizermos poderemos provocar um escândalo!!
Podemos observar que cada tempo tem as suas polêmicas... No Novo testamento, não vemos Paulo ou outro apóstolo resolvendo questões sobre ser ou não ser lícito beber vinho, mas vemos Paulo por três vezes fazendo isto sobre o comer carne; nos dias de hoje ninguém questiona mais o comer carne, mas questiona-se o beber vinho, mesmo que moderadamente. Entretanto, a Bíblia condena a glutonaria, e o crente é famoso por ser glutão, e ainda se gaba disso! É a frase: "crente não bebe, mas come que é uma beleza!"... Ou seja, eu não peco bebendo, mas peco na glutonaria!
No texto em questão é interessante observar o apóstolo Paulo colocando o ato de comer carne e de beber vinho no mesmo pé de igualdade... Isto só demonstra que ambas eram práticas comuns entre os cristãos de sua época. Logo, só podemos concluir que não era e nem é pecado comer carne e beber vinho; apenas algumas pessoas no passado achavam que comer carne era. No presente, algumas outras pessoas acham que pecado é beber vinho. Como bem disse o sábio rei Salomão,não há nada de novo debaixo do sol” (Ec 1:9)...
VICIADOS EM VINHO — E EM OTRAS COSITAS MAS...
Um grande problema do vinho além da embriaguez é o vício. A embriaguez pode ser um problema esporádico (o indivíduo embriaga-se só de vez em quando, aos finais de semana, em datas especiais etc), mas o alcoolismo é constante. O alcoólatra não se domina diante do álcool, e vive sob seus efeitos. O alcoolismo é um dos maiores males de nossa sociedade: destrói vidas, desfaz lares, empobrece e aniquila os que caem em suas garras, em todas as esferas. Ao contrário do vício do cigarro, que só afeta diretamente o viciado, o alcoolismo afeta todos os que estão ao redor do alcoólatra, desestruturando a família. É tarefa da igreja combater não só este vício terrível, mas todos os vícios, por mais inocentes que sejam.
Faria alguma diferença se eu tivesse dito desde o início do artigo que o álcool já fez e faz estragos terríveis na minha família e em alguns amigos? Pois é... Eu tenho um irmão de sangue que é alcoólatra. Tenho amigos também na mesma situação. Também tenho um tio que perdeu tudo por causa do álcool — inclusive a vida, pois ele suicidou-se. 
Você deve estar se perguntando: com todo este histórico de alcoolismo na família, por que esse cara continua dizendo que não há problema com o vinho alcoólico? Simples: porque o problema não está no álcool, mas nesses meus parentes. Meu pai e minha mãe tiveram onze filhos e filhas; todos fazem uso do álcool ― a grande maioria moderadamente, e apenas um descontroladamente. Dentre os meus cunhados, apenas um tem problemas com o álcool.
Mas, você pode perguntar: não seria melhor, por causa desses meus parentes (tio, irmão e cunhado), que ninguém em nossa família tocasse em álcool?
Mas eu ainda não falei de toda a minha família...
Temos uma prima que é chocólatra — viciadésima em chocolates. Certa vez, ainda adolescente, ela viajou sozinha para passar uns dias com alguns parentes no interior, e seus pais esqueceram de avisá-los do problema. O resultado foi que ela, sem ninguém por perto para vigiar e impor limites, comeu tanto chocolate que acabou indo parar no hospital... E aí? Devemos também parar de comer chocolates na família?
Bom, todos nós gostamos de churrasco. Vez em quando, promovemos um em nossa casa, nos fins de semana e feriados. Só que temos um parente que quando começa a comer não quer parar mais, e chega a passar mal de tanto comer. Paramos com o churrasco também?
Em suma, mesmo sem apelar para a Bíblia, quem quiser usar o velho e simples "bom senso" poderá ver claramente onde é que está o problema: nas pessoas. Nos excessos... Na glutonaria, na embriaguez, nos vícios... Querer culpar o vinho, o chocolate ou o churrasco pelos erros de quem comete excessos é o mesmo que querer culpar a internet e aboli-la de nossas vidas porque alguém em nossa casa é viciado em sites pornográficos. É aquela clássica piada: o cara chega em casa e flagra a esposa com um amante no sofá; para resolver o problema definitivamente, de se desfaz imediatamente do sofá...
O resumo de tudo que há na Bíblia sobre bebida está nestes dois versículos: “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras” (Ec 9:7), mas não se esqueça que “O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio” (Pv 20:1). Use-o, mas domine-o!
ESCANDALIZANDO... COM VINHO E COM CAFÉ!
E os escândalos? Jesus disse que “qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar” (Mt 18:6). O apóstolo Paulo afirmou também que deveríamos deixar de comer carne, se isso viesse a escandalizar o irmão (Rm 14:21). O que dizer diante de tudo isso?
Lembrei-me da história de um irmão que foi fazer doutorado em Física na Sorbonne, em Paris. Ele, sua esposa e duas filhas, educados no costume de que os cristãos não devem beber vinho, escandalizaram-se com os pais franceses cristãos, que permitiam que suas crianças tomassem vinho durante as refeições.
Mas de igual modo os pais franceses ficaram escandalizados com a quantidade de café que o meu amigo permitia que suas filhas pequenas tomassem ― café puro, preto, não descafeinado!! Crianças tomando uma ou mais xícaras grandes cheias de café, mais de uma vez por dia?!?!? Isso era inaceitável lá, segundo ele me contou.
Minha enteada de sete anos adora um café expresso... Vocês devem saber o quão forte é um expresso... Será que por causa do escândalo eu devo ir tomar vinho na Europa, e ela continuar tomando o expresso aqui no Brasil?
Bem, continua valendo o princípio do escândalo, não continua? Mas não podemos esquecer que Paulo afirmou que “Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda (Rm 14:14).
Se é assim, como fica a questão dos escândalos? Paulo continua afirmando: “Mas, se por causa da ______ se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua _______ aquele por quem Cristo morreu” (Rm 14:15). Substitua-se os espaços por outra palavra qualquer, como café, prática de esportes, ir à praia, assistir tevê, e o princípio permanece. Sabia que você, usando uma bermuda na rua, pode estar escandalizando irmãos de igrejas mais radicais? O que fazer, então? Deixar de usar bermudas?
Será que já não chegou a hora de nós, cristãos, crescermos em maturidade, não nos escandalizarmos com coisas tão pequenas e ver que “tudo é puro para os puros”, e que “não devemos nos deixar aprisionar por coisa alguma”, pois “foi para a liberdade que Cristo nos chamou”?
Eu pessoalmente tenho uma opinião acerca dos escândalos: estão sempre relacionados ao pecado. Por exemplo, se o irmão Chico adulterou e tal fato chega ao conhecimento do irmão Francisco, escandalizando-o, este ato constitui-se em escândalo aos olhos de Deus. Mas se o irmão Chico foi visto sentado em uma mesa de bar tomando um guaraná, mas o irmão Francisco o viu, julgou que ele estava bebendo cerveja e se escandalizou, aos olhos de Deus o escândalo não foi por causa da atitude do irmão Chico, e sim por causa do julgamento temerário do irmão Francisco. Posso até estar errado, mas creio desta forma.
Assim, muitos escândalos podem ser evitados com o amadurecimento do crente. Precisamos ser maduros o suficiente para, vendo o irmão Chico num bar com um copo à sua frente, não julgá-lo, mesmo que ele esteja tomando cerveja. Além disso, precisamos ler as Escrituras e ver o que é pecado ou não de acordo com as Escrituras, e não de acordo com o que eu acho que é pecado.
Infelizmente, existem muitas coisas que a igreja considera como pecados, mas a Bíblia não as considera assim. Em relação a estas coisas, está na hora de amadurecermos e mostrarmos aos nossos irmãos e às pessoas não-crentes que são lícitas. Não foi assim que muitos pioneiros fizeram? Na década de 1970, a maioria das igrejas evangélicas consideravam pecado grave o crente praticar esportes, como jogar futebol. Neste contexto, alguns atletas profissionais, que ficaram conhecidos como Atletas de Cristo, escandalizaram a muitos, mas demonstraram que o esporte, tanto amador como profissional, é uma prática saudável, lícita e permitida ao crente. Hoje, pouquíssimas pessoas ainda consideram pecado o crente praticar esportes.
Neste aspecto, há muito o que se desmistificar no meio evangélico e até no meio não-crente. Entre estas coisas está o uso do vinho de forma moderada, que precisa ser esclarecido e ensinado de forma bíblica, equilibrada e coerente, eliminando os escândalos. E nós, crentes, precisamos aprender a ser mais equilibrados, não nos escandalizando com coisas tão pequenas.
INTERPRETAÇÕES TENDENCIOSAS E EQUIVOCADAS
Como já falamos, o álcool causa muitas tragédias quando tomado em excesso, e é tarefa inegável da igreja combater o vício e o alcoolismo na sociedade, resgatando alcoólatras e beberrões, ajudando-os a abandonar o vício e o pecado e conduzindo-os a Jesus. Contudo, não podemos dizer que beber vinho é pecado quando a Bíblia não afirma isto, mesmo que tenhamos a melhor das intenções de ajudar estas pessoas no seu processo de libertação. Passar uma informação errada destas, além de ser uma espécie de ‘mentira santa’ é o mesmo que, para resgatar uma prostituta, ensinar que sexo é pecado, ou para ajudar obesos mórbidos a parar de comer desordenadamente, ensinar que comer é pecado!
Os textos bíblicos apresentados pelos opositores do vinho para provar que seu uso é pecado são cuidadosamente escolhidos (só os proibitivos, e muitos deles fora de seu contexto); os artigos e os argumentos são tão tendenciosos, têm tantos erros interpretativos e uma linha de raciocínio tão pueril que fica difícil até analisá-los seriamente. Trata-se visivelmente de pessoas que tentam interpretar a Bíblia com base em suas opiniões, quando deveriam fazer justamente o contrário: moldar suas opiniões à Bíblia. Os textos distorcem as Escrituras para fazerem valer a opinião dos autores, e não a opinião de Deus. É um exemplo de farisaísmo, que levam as pessoas a coarem mosquitos e engolirem camelos.
Vamos analisar um dos textos que me foram enviados, para demonstrar tal tendência. O autor apresenta uma razão pela qual Jesus não poderia ter bebido vinho afirmando que “...em Lv 10:9-11, há o mandamento de que o sacerdote de Deus não podia beber vinho nem bebida forteVinho ou bebida forte tu e teus filhos não bebereis quando entrardes na tenda da congregação, para que não morrais... para fazerdes diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo e para ensinardes aos filhos de Israel todos os estatutos que o SENHOR lhes tem falado por intermédio de Moisés’”(grifos meus).
Pense bem: se você encontrar um cartaz ou panfleto dizendo “Não bebereis vinho nem bebida forte, nem tu nem teus filhos, quando fores dirigir o teu automóvel, para que não morrais”, será que você entenderia o texto como uma proibição generalizada ao consumo de bebida alcoólica, ou seria uma orientação momentânea para se evitar acidentes? É só usar o bom senso, e compreenderemos a intenção de Deus ao dar-nos tal instrução. No caso, foi propositalmente omitida uma informação importante do texto, ou tentaram fazê-la passar desapercebida (quando entrares na tenda da congregação), para que a Bíblia parecesse dar razão ao argumento proibitivo. A omissão desta informação leva a conclusões equivocadas.
Uma ordem semelhante aparece em Ezequiel 44:2: “Nenhum sacerdote beberá vinho quando entrar no átrio interior. O texto deixa claro que, se não for entrar noátrio interior, ou seja, ministrar o ofício sacerdotal, o sacerdote pode fazer uso de vinho... E como deveria ser este uso? Com moderação, como ensina toda a Bíblia. Óbvio, não?
Ainda considerando o argumento anterior, o que deve fazer um crente que tem filhos não crentes que fazem uso de bebidas alcoólicas, já que o texto em questão é claro: “'Vinho ou bebida forte tu teus filhos não bebereis”???
SUCO É BOM, VINHO É MAU
Sem apresentar qualquer base bíblica, um dos textos enviados afirma que “tudo o que a Bíblia fala de positivo sobre a palavra ‘vinho’ está se referindo ao suco de uva, e tudo o que fala de negativo está se referindo às bebidas alcoólicas”. Quando alguém adota este princípio, além de estar dando à Bíblia diretrizes que ela não aplica a si mesma também está dando margem a interpretações tendenciosas e conclusões arbitrárias. De onde foi tirada esta valiosa informação, que nos indica quando a Bíblia trata de forma permissiva ou proibitiva o suco da uva e o vinho, se ela não está explícita na Bíblia? Acaso caberia ao homem definir esta diferença que Deus não definiu na Escritura? Vejamos:
Por razões que aprouve ao Senhor nos deixar ocultas, há um mistério que Ele estabeleceu em relação à abstenção da uva e seus subprodutos — todos os subprodutos — para algumas pessoas. Deus jamais proibiu na Sua Palavra o vinho ao homem, exceto temporariamente aos sacerdotes que ministrassem no Templo e nos casos específicos dos votos de nazireu (que poderia ser permanente ou temporário, dependendo do voto feito pela pessoa). A passagem bíblica que fornece as diretrizes para o caso está em Números 6:1-21. Vamos analisar alguns versículos do texto que dispõe sobre o voto de nazireu: “Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando alguém, seja homem, seja mulher, fizer voto especial de nazireu, a fim de se separar para o Senhor, abster-se-á de vinho e de bebida forte; não beberá vinagre de vinho, nem vinagre de bebida forte, nem bebida alguma feita de uvas, nem comerá uvas frescas nem secas. Por todos os dias do seu nazireado[permanente ou temporário, dependendo do voto feito] não comerá de coisa alguma que se faz da uva, desde os caroços até as cascas” (Nm 6:2-4 - grifo e observação meus)Logo, quem estivesse debaixo deste voto não poderia se utilizar de NENHUM dos subprodutos da uva ou de bebidas fortes durante o período do seu voto, nem do suco não alcoólico e nem mesmo do própria uva in natura.
Vê-se facilmente que o problema não está no vinho alcoólico, mas nas inocentes UVAS e em seus subprodutos, que Deus vetou ao nazireu por Sua soberania, sem dar maiores explicações ao homem. Um nazireu não podia comer carne ou salada temperadas com vinagre de uvas ou alcoólico (este mesmo vinagre de álcool que usamos em nossas cozinhas), e nem mesmo comer um punhado de passas ou um simples cacho de uvas, suas sementes ou suas cascas. Não poderia usar um medicamento que tivesse em sua composição qualquer subproduto das uvas ou do álcool. Tolerância zero! Imagine um crente em nossos dias fazendo um voto desses... Não poderia nem participar da ceia do Senhor, que mesmo usando suco de uvas não alcoólico trata-se de um subproduto das uvas!
Somente após o total cumprimento do voto e da realização de rituais próprios o nazireu poderia voltar a beber vinho (Nm 6:20). Logo, observamos que o problema não está no VINHO, e sim na uva e nos seus subprodutos, baseados em um voto feito. O porquê, o Senhor não nos revela em Sua Palavra, e nem nos cabe fazer especulações daquilo que aprouve a Ele nos manter em oculto.
Uma coisa pode ser observada no texto, e deve nos servir de lição: quando Deus quer nos prescrever uma proibição absoluta Ele o faz em detalhes, descrevendo tudo com minúcias. Deus é específico em Sua Palavra nas questões permissivas e proibitivas: deixa tudo claro, sem deixar brecha alguma para interpretações humanas passíveis de erro. Portanto, se Ele desejasse nos alertar que vinho não pode, mas suco de uva pode, Ele o faria claramente na Escritura, para não nos deixar dúvida (como fez detalhadamente para os que fizessem voto de nazireu), e nem deixar a tarefa de decidir o que é permitido e o que é proibido para nós, pó e cinza.
Compreendemos que tudo aquilo que a Bíblia afirma claramente ser proibido ao homem, é proibido! Não há meios de negociar, ou encontrar brechas par fugir desta proibição. É o caso do adultério, da fornicação, da bigamia, da glutonaria, da embriaguez, do roubo, do assassinato... É proibido, e ponto final. Porém, aquilo que Deus não determina claramente em Sua Palavra, cabe ao homem decidir, por sua consciência e pelos princípios do bom senso, se deve fazê-lo ou não. Um exemplo: nada diz a Bíblia sobre ser proibido ao crente praticar um esporte, como o futebol ou o vôlei. Cabe ao homem, analisada sua consciência, decidir se o pratica ou não.
Além do caso específico do voto de nazireu ou do caso de sacerdotes quando forem ministrar, não há outra condição de proibição de uso da uva ou seus subprodutos ao crente! Nenhum outro texto bíblico que proíba o homem de comer uvas, beber vinho ou outro derivado da videira! ABSOLUTAMENTE NENHUM!!! Assim, não existindo base bíblica para a distinção entre vinho e suco de uva, exceto nas proibições claras, quem define se deve ou não beber vinho é o próprio homem, analisando sua consciência (Rm 14:22-23), seu autocontrole e seus limites em relação ao álcool, e respeitando os irmãos mais fracos, evitando escandalizá-los. E aliás, quem se escandaliza com o fato de alguém beber vinho moderadamente, está demonstrando realmente ser fraco!
Logo, não podemos aceitar um argumento tão infantil e tão desrespeitoso com a Bíblia, que deixa na mão do homem a prerrogativa de definir o que ela afirma ser bom e ser mau.
Para os que acham ser difícil distinguir entre o que é permitido e proibido, vamos dar uma orientação simples: alimentar-se não é pecado; glutonaria é. Sexo não é pecado; fora do casamento é. Comer chocolate não é pecado; ser viciado em chocolate é (aliás, qualquer vício que nos seja prejudicial ao organismo, desde o cigarro até o roer as unhas). Beber suco de uva não-alcoólico não é pecado; beber demasiadamente é (glutonaria). Beber vinho alcoólico não é pecado; embriagar-se é. Muito simples! Só não compreende quem não quer!
ERROS DE TRADUÇÃO
Infelizmente, somos forçados a concordar PARCIALMENTE com o que diz a profissão de fé da religião Mórmon no tocante à sua crença na Bíblia: “Cremos que a Bíblia é a palavra de Deus, enquanto corretamente traduzida”. Um erro de tradução pode mudar o sentido de um texto inteiro, e infelizmente, foi o caso da passagem onde Jesus transformou água em vinho, na ocasião em que o mestre sala dá sua opinião acerca do vinho transformado pelo Senhor: “Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem [METHUÔ], então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho” (Jo 2:10)
A palavra grega METHUÔ e suas variantes são encontradas em várias passagens do Novo Testamento grego (At 2:15; 1 Co 11:21; Ef 5:18) e sempre são traduzidas como ‘embriagar-se’; os dicionários e léxicos de grego bíblico são unânimes neste aspecto. No texto em questão, o zeloso tradutor da Bíblia para a língua portuguesa não achou conveniente traduzi-la como ‘embriagar-se’ e preferiu usar a expressão ‘bebido bem’, que embora basicamente queiram dizer o mesmo, esta última forma deixa margens para dúvidas na interpretação. É evidente que este erro de tradução, por melhores que tenham sido as intenções do tradutor para não fomentar a prática de beber entre os cristãos, modifica por inteiro o primeiro milagre do Senhor Jesus, pois se tivesse sido traduzido corretamente, o texto indicaria claramente que Jesus transformara água em vinho alcoólico.
Assim sendo, chegamos à conclusão que o texto teria sido traduzido mais corretamente assim: “Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando [os convidados] já estão embriagados, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho”.
CONCLUSÕES
Encerrando este artigo, chegamos a algumas conclusões óbvias em relação ao primeiro milagre do Senhor Jesus e ao tema em questão:
1 – O primeiro vinho servido nas bodas de Caná sem duvida nenhuma tinha propriedades embriagantes, e este foi o porquê de o mestre-sala ter dito ao noivo: “Quando já tem bebido bem [methuô], servem o inferior”. A palavra grega methuô, por mais que queiram dar-lhe significado de “estar farto, barriga cheia”, tem significado de “estar embriagado”. Se alguém tiver dúvida disso, procure um bom dicionário ou um léxico da língua grega do Novo Testamento, e poderá comprovar! As palavras gregas para fartar-se são chortazô e empletô, não usadas no texto em questão, e em nenhum outro que trata de assuntos relacionados ao uso do vinho.
2 - Mesmo que o “beber bem” tivesse significado de estar com o estômago cheio, farto (como insistem os opositores do vinho alcoólico), não haveria razão para o costume de servir vinho de qualidade inferior no fim das festas, pois é possível que uma pessoa, estando farta, ainda se arrisque a beber uma bebida não alcoólica de MELHOR qualidade, mas nunca de qualidade inferior.
3 – Devido ao beber bem, ou seja, o bastante para se atingir certo grau de embriaguez alcoólica, a mente das pessoas ficava mudada pelo efeito do álcool a ponto de não notar a diferença quando o vinho inferior era servido. Este segundo vinho geralmente ou era de qualidade inferior ou vinha diluído em água, não com a finalidade de não embriagar, mas para que rendesse mais, até o fim da festa (que geralmente durava dias). Somente neste caso justifica-se o servir um vinho de qualidade inferior no fim da festa: se o primeiro servido for alcoólico e tiver provocado efeitos a ponto de os convidados não notarem a substituição por um produto inferior.
4 – Esta perturbação momentânea dos sentidos não acontecia com o mestre-sala, pois ele era o copeiro responsável pela festa e tinha o dever de estar sóbrio para experimentar os alimentos e as bebidas, determinando se seriam servidos ou não.
5 – Se Jesus tivesse feito suco de uva doce sem álcool, quando o mestre-sala o provasse veria que não tinha álcool como o primeiro e teria feito algum comentário a respeito de ser apenas suco de uva não alcoólico, e certamente vetaria que fosse servido na festa. Nada disto ele fez, porque comprovou que o vinho era melhor do que o primeiro. O primeiro era alcoólico, e o segundo vinho, feito por Jesus Cristo nosso amado Mestre conservava todas as propriedades do primeiro, inclusive o álcool, só que em uma qualidade muito superior, e possivelmente até em superior teor alcoólico.
6 – O fato de Jesus ter feito vinho com teor alcoólico, não quer dizer com isto que Ele nos mandou beber vinho. Ao contrário, em toda a Bíblia é deixada esta decisão para a própria pessoa, analisando sua consciência, suas condições de autodomínio sobre a bebida e cuidando para não provocar escândalo nos mais fracos. Logo, a decisão é sua! Se você quer ser abstêmio, não peca, mas se você, abstêmio, quiser julgar os não abstêmios, peca!
7 – O fato de Jesus ter bebido vinho a ponto de ser chamado de “beberrão” pelos religiosos da época não significa nem que Ele era beberrão e nem que Ele queria que nós bebêssemos.
8 – Há pessoas que não devem absolutamente beber: os bispos (pastores), que as Escrituras orientam que não sejam dados ao vinho, e aqueles que têm propensão ao alcoolismo, pois apresentam uma patologia que os priva do domínio sob o álcool. Estes devem ser completamente abstêmios.
9 – Não devemos jamais, mesmo que estejamos tentando defender um bom costume ou provar uma verdade teológica, afirmar o que a Bíblia não afirma. No caso específico do tema em debate, a Bíblia em momento algum proíbe ou trata como pecado o ato de beber moderadamente bebidas fermentadas, entre elas o vinho. Igualmente, jamais devemos forçar  Bíblia a concordar com as nossas opiniões, e sim forçar nossas opiniões a concordar com a Bíblia.
10 - Embora a Bíblia não trate o ato moderado de beber vinho como pecado, isto não autoriza a Igreja a incentivar ninguém a beber, mesmo que moderadamente. Pelo contrário, considerando os malefícios provocados pelo álcool entendemos que a igreja deve fomentar entre os fieis a abstinência, mas jamais ensinando ser pecado o uso moderado do vinho ou de outras bebidas fermentadas.
11 - Embora a Bíblia condene veementemente a embriaguez, isto não dá o direito à igreja e a ninguém de julgar aqueles que bebem moderadamente e tratá-los como pecadores.
12 - Os irmãos que bebem moderadamente jamais poderão se esquecer de que são responsáveis pelos escândalos que vierem a provocar nos irmãos mais fracos na fé.
13 – Devemos nos despir do preconceito e da incoerência. Por exemplo, fala-se que beber cerveja é pecado, por conter álcool e provocar a embriaguez. Recentemente, foram lançadas no mercado cervejas totalmente sem álcool. Mas acreditem: há pessoas que afirmam que beber cerveja sem álcool também é pecado! Como isto é possível, se somente o álcool provoca a embriaguez, e somente a embriaguez pode ser considerada pecado?
14 – Se nossa igreja tem uma posição formada acerca de um determinado assunto ― por exemplo, a questão do vinho ou do uso de certas vestes ― e isto não prejudica a nossa vida de fé, devemos respeitar, obedecer e jamais nos rebelarmos contra a igreja ou sua liderança. Tudo isso, porém, deve ser feito sem extremismos ou alienação, ou seja, respeitando outros pontos de vista. As doutrinas de costumes, mesmo as que não possuem base clara na Bíblia, na maioria das vezes são salutares, e bem fazemos se as obedecemos, mas sem extremismos ou radicalismos.
15 – Nem só de vinho viverá o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus!

Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu.” (Sl 119:59)Este texto é uma compilação de vários autores, entre eles: Mario PersonaBento Souto, Zilton Alencar e outros autores (materiais coletados na Internet ou recebidos via e-mail, sem créditos aos autores)