sexta-feira, 6 de março de 2015

CARIDADE DE SELFIE

Dias após a tragédia de 1º de Maio de 1994, quando morreu no circuito de Ímola (ITA) o grande campeão mundial de Formula 1 Ayrton Senna, descobriu-se algo sobre ele que nem mesmo alguns membros próximos de sua família tinham conhecimento: ele ajudava financeiramente, com altas quantias, várias instituições de caridade. Embora ele fizesse tais doações, ele jamais as divulgou, pois parecia ser conhecedor do princípio bíblico de “quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola seja dada ocultamente: e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente” (Mt 6:3-4). Há quem afirme que o nosso querido Ayrton era evangélico, embora não frequentasse nenhuma igreja de forma assídua e comprometida, talvez por causa das suas atividades e sua popularidade.

É lamentável que diante de tragédias, como as enchentes que no momento estão assolando o Estado do Acre, muitos crentes e muitas igrejas promovam ações sociais, mas estas ações sejam devidamente registradas em filmagens e fotografias e alardeadas aos quatro cantos do país, via redes sociais e páginas oficiais dos "ministérios". Os "crentes" chegam a criar rashtags solidárias, com fotos sorridentes, posando de piedosos! Tais fatos só mostram o quanto o princípio da discreção na caridade foi esquecida pelos cristãos!

Não importa se damos alguns centavos a um mendigo na rua, se sustentamos com boas e constantes ofertas uma obra social, se socorremos de forma emergencial as vítimas de calamidades e tragédias ou se nos desfazemos de nossas riquezas para dá-las aos pobres. O princípio não mudou. O diabo é que inventou e colocou nos corações dos homens a "caridade de selfie", na qual nos escondemos debaixo da capa da falsa piedade para alardear nossas justiças diante dos homens!

Embasados no princípio da graça, de que somos salvos sem as obras, negligenciamos a caridade. Já que não somos salvos por meio delas, desprezemo-nas completamente! Enquanto isso, espíritas e católicos dão aos "evangélicos" uma lição de que a caridade deve ser praticada. Mesmo que o façam esperando salvação por causa de suas obras, deviam nos servir de exemplo! Conheço espíritas ricos e bem posicionados na pirâmide social que pelo menos um dia da semana descem de seus pedestais para ajudar os pobres, cuidar de doentes terminais, fazer o bem. Por que não vemos tais atos partindo dos "crentes"?? Por que não vemos crentes visitando hospitais de câncer (alguns até o faziam, mas de forma tão errada que foram expulsos e proibidos de voltar!), orfanatos, asilos?Se não praticamos caridade para a salvação, deveríamos ao menos fazê-lo porque somos salvos! A Escritura assim prescreve: “somos feitura sua, CRIADOS em Cristo Jesus, PARA AS BOAS OBRAS, as quais Deus preparou PARA QUE ANDÁSSEMOS NELAS” (Ef 2:10).

Devemos praticar a caridade individualmente como crentes ou coletivamente como Igreja, desprezando, entretanto, os dois erros mais comuns: [1] achar que seremos salvos por elas, e [2] aderirmos à caridade de selfie. O bem deve ser praticado pelo crente e pela Igreja de uma forma tão discreta que um dia, na nossa falta por qualquer motivo, as pessoas a nosso redor descubram todo o bem que fizemos enquanto estávamos em seu meio!

A caridade de selfie deve ser evitada a todo custo! Embora pareça piedosa, é carnal e diabólica. Quem a pratica, já recebeu sua recompensa!

Encerro com uma frase do bispo Walter McAlister sobre a geração da selfie: “Para mim, a "selfie" é a expressão-mor de uma geração narcisista e sem auto-estima, que se expõe para buscar afirmação. Triste e neurótico.”. E eu assino embaixo!